Folha de S. Paulo


Mais velho, Japão volta a se abrir para estrangeiros

Koji Sasahara/Associated Press
Desde que Shinzo Abe chegou ao poder, número de estrangeiros que vivem no Japão subiu quase 10%
Desde que Shinzo Abe chegou ao poder, número de estrangeiros que vivem no Japão subiu quase 10%

Trabalhar em uma loja de conveniência é um rito de passagem para muitos universitários japoneses: o clássico emprego de meio período. Nos centros de treinamento do grupo de varejo Lawson, os jovens selecionados aprendem maneiras polidas de cumprimentar os fregueses e depois são enviados a trabalhar em milhares de lojas espalhadas pelo Japão.

Mas há algo de diferente nos recrutas recentes. Eles não são japoneses, e sim vietnamitas, e seu treinamento não é em Tóquio, mas em Hanói ou em Ho Chi Minh, cerca de um mês antes que embarquem para seus estudos em universidades japonesas.

Em um sinal do extremo aperto no mercado de trabalho japonês —com a queda da população em idade de trabalho e três anos de estímulo econômico sob o plano de recuperação do premiê Shinzo Abe puxando a demanda por empregados—, a Lawson começou a treinar universitários vietnamitas antes mesmo que saiam de seus países.

A decisão da empresa ilumina um resultado pouco percebido do plano de estímulo de Abe, o "Abenomics": alta forte e cada vez mais rápida na imigração de curto prazo, sob categorias de vistos que permitem que trabalhadores de países mais pobres aproveitem a prosperidade da mais rica economia asiática.

Desde que Abe chegou ao poder, no final de 2012, o número de estrangeiros que vivem no Japão subiu quase 10%, para 2,2 milhões, e o número de "estagiários técnicos" teve alta de 27%, enquanto o de estudantes estrangeiros cresceu em 36%.

Embora a imigração permanente seja rigidamente controlada, os números destacam uma das válvulas de segurança que as empresas japonesas empregam para controlar a alta dos salários, com o influxo de trabalhadores estrangeiros equivalendo a entre 10% e 15% dos postos de trabalho totais criados no período pela Abenomics.

A Lawson informa que vai recrutar cem universitários vietnamitas no primeiro ano de seu programa e número maior nos anos seguintes. A empresa só recruta universitários que já estariam se mudando para o Japão de qualquer forma. Não se envolve com os estudos deles ou com a obtenção de seus vistos.

ESCASSEZ

Segundo a empresa, o esquema é um dos diversos adotados para enfrentar a escassez de mão de obra agora que a população japonesa em idade de trabalho está caindo em 1 milhão de pessoas ao ano.

Com o desemprego em 3%, há 1,74 emprego de meio período disponível para cada candidato -nível de oferta visto pela última vez em 1992.

"Em alguma medida, creio que a alta na imigração seja resposta à escassez de mão de obra", disse Mitsuhiro Fukao, professor de economia na Universidade Keio.

Uma das principais áreas de imigração é a de "estagiários técnicos", categoria de visto que permite que trabalhadores de países em desenvolvimento sejam treinados por até três anos em empresas japonesas de alta tecnologia.

"Alguns são verdadeiros trainees, mas outros são uma forma disfarçada de importar mão de obra estrangeira barata", diz Fukao. Cerca de metade dos estagiários técnicos vem da China, mas o número de vietnamitas explodiu, triplicando desde 2012.

Embora a imigração de curto prazo alivie parte da pressão no mercado de trabalho, as grandes empresas desejam desesperadamente que a imigração permanente cresça, a fim de compensar o arrasto econômico causado pela queda na população.

O assunto continua controverso. Abe flertou com algumas ideias para trazer trabalhadores estrangeiros altamente capacitados ao país, mas apenas alguns milhares deles chegaram até agora.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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