Folha de S. Paulo


União entre Bayer e Monsanto não é vista com bons olhos por produtores

Markus Schreiber/Associated Press
Bayer afirmou que pretende pagar mais de US$ 65 bilhões pela maior empresa de sementes do mundo
Logo da Bayer, que anunciou compra da Monsanto nesta quarta (14)

Os produtores não veem com bons olhos mais uma união de grandes empresas do setor de fornecimentos de insumos agropecuários. Nesta quarta (24), a companhia de produtos químicos Bayer anunciou a compra da gigante de sementes Monsanto em operação avaliada em US$ 66 bilhões.

Para uns, toda concentração é perigosa e traz novos custos. Para outros, isso faz parte do capitalismo, e é preciso avaliar a união com olhos no futuro. Pode ser até que, com maior poder de investimentos e novas pesquisas, dessa união surjam novas tecnologias que favoreçam o produtor.

"Não é boa essa concentração. Olho com receio a união dessas duas gigantes", diz Rui Prado, presidente da Famato (Federação da Agricultura do Estado de Mato Grosso). Na avaliação dele, essa concentração vai na linha do monopólio.

Prado acrescenta ainda que "a história mostra que essas uniões sempre resultam em aumento de preços para o produtor e, por consequência, para o consumidor final."

Prado alerta que a agricultura no mundo está ficando nas mãos de poucos grupos e os insumos monopolizados. Com relação ao Brasil, ele diz que o setor "vai ver o que se pode fazer na forma da lei" para reduzir os efeitos dessa concentração.

O presidente da Famato lembra, inclusive, que a Monsanto tem um acordo em curso com os produtores sobre a cobrança de royalties. A Bayer vai ter de honrar esse compromisso, segundo ele.

Para Endrigo Dalcin, presidente da Aprosoja (Associação dos Produtores de Soja e de Milho de Mato Grosso), criou-se uma gigante mundial, e essa concentração é ruim porque a oferta de insumos fica cada vez mais nas mãos de poucos.

"No primeiro momento, há uma redução da competição que é preocupante. Mas, precisamos também olhar para a frente. Sendo uma das empresas que mais investem em pesquisa, a Bayer poderá avançar em germoplasma e biotecnologia, trazendo benefícios para o produtor", diz ele.

Precisamos primeiro olhar essa união e depois analisar o que ela vai representar para o setor, diz o presidente da Aprosoja, que já foi contatado pelas empresas envolvidas nesse processo.

Glauber Silveira, presidente da Câmara Setorial da Soja, diz que nenhuma fusão é positiva para o mercado, mas esse é o mundo capitalista. Uma coisa é certa, haverá uma redução de competitividade no setor.

O ideal seria que a Monsanto, líder em biotecnologia, também avançasse no setor de químicos. E que a Bayer, líder em agroquímicos, investisse mais em biotecnologia. A permanência das duas no mercado aumentaria a concorrência no setor.

Já o produtor Ademir Rostirolla, do Oeste de Mato Grosso, a concentração é extremamente perigosa, porque haverá uma cartelização de empresas que são suportes na produção de alimentos.

Os reflexos não vão ser apenas para os produtores, mas também para os consumidores finais, acredita ele.

Por outro lado, essa concentração pode ser boa se ela resultar em mais capitais investidos em desafios atuais para o setor como clima, produtividade e combate a doenças diz ele.

Para o produtor Ricardo Tomczyk, que foi presidente da Aprosoja, essa união de gigantes é uma concentração perigosa. O produtor vai ficar refém de uma empresa que tem os olhos voltados para si mesma.

Na avaliação de vários produtores, uma das saídas para o produtor será a formação de "pools" de compra ou agir com cooperativas.


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