Folha de S. Paulo


Operação contra perda em fundos foi gestada em CPI

Danilo Verpa/Folhapress
Policiais chegam a sede da Polícia Federal em São Paulo com malotes da Operação Greenfield.
Policiais chegam a sede da Polícia Federal em São Paulo com malotes da Operação Greenfield.

A Operação Greenfield, deflagrada na segunda-feira (5) para investigar supostos prejuízos em fundos de pensão de funcionários de empresas estatais, tem como cérebro o procurador da República em Brasília Anselmo Henrique Cordeiro Lopes, que no ano passado trocava informações com técnicos da CPI dos Fundos de Pensão.

A CPI, que durou de agosto a dezembro do ano passado, apontou problemas em diversos FIPs (Fundos de Investimento em Participações) que receberam aportes de fundos de pensão, incluindo seis dos oito casos investigados pela Greenfield.

Os FIPs são instrumentos usados pelas empresas para arrecadar dinheiro para ampliação de atividades.

Durante os trabalhos da CPI, o procurador recolheu informações para a Greenfield, que começou a ganhar corpo no fim de 2014, quando ele abriu os primeiros procedimentos a partir de uma representação do PSDB.

Alguns policiais federais que hoje estão na operação também participaram das apurações da CPI, recebendo e fornecendo dados sobre fundos.

Para montar a Greenfield, Lopes recebeu apoio da PGR (Procuradoria-Geral da República), que, no final de junho, criou um grupo de trabalho específico para os fundos de pensão, formado por ele e mais dois colegas, Aldo de Campos Costa, do Tocantins, e Paulo Gomes Ferreira Filho, do Rio. Nos meses seguintes, mais quatro procuradores se juntaram ao grupo.

Após a criação do grupo de trabalho, os procuradores buscaram nos bastidores convencer a PF a entrar para valer na Greenfield para a fase ostensiva da investigação.

Os procuradores obtiveram o apoio da Superintendência da Polícia Federal em Brasília, na figura da delegada da PF Rúbia Pinheiro, que passou a ter grande afinidade com os procuradores, a ponto de assinarem juntos diversas peças protocoladas na Justiça, o que é incomum.

Além disso, os investigadores se cercaram do apoio de especialistas em mercado financeiro e fundos de pensão, técnicos da Previc, autarquia vinculada ao Ministério da Previdência, e da CVM (Comissão de Valores Mobiliários).

As ordens de prisão no caso Greenfield foram expedidas pela Justiça Federal em julho, mas a PF trabalhava com outras prioridades, como o risco de atentados nos Jogos do Rio, o que adiou a deflagração da operação.

Ao final foram mobilizados 560 policiais federais, nesse sentido, uma das maiores operações da história da PF.

POESIA

Lopes evita dar entrevistas à imprensa. A Folha apurou que, no caso Greenfield, o juiz responsável pela operação, Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara Federal de Brasília, recomendou informalmente que procuradores fossem comedidos no relacionamento com a imprensa.

Nascido no Amazonas, vivendo em Brasília há dez anos e juiz federal desde 1992, Vallisney tem vasta experiência na área criminal, incluindo tribunais de júri por homicídios. Ex-promotor de Justiça, atuou no STJ (Superior Tribunal de Justiça) e em tribunais federais.

Estão sob sua responsabilidade algumas das principais operações de Brasília, como a Zelotes, que investigou fraudes no Carf, conselho vinculado ao Ministério da Fazenda. Na 10ª vara, especializada em crimes financeiros, tramitam mais de 2.500 processos.

Em sua página pessoal na internet, o juiz divulga poemas de sua autoria. No mais recente, de 5 de agosto, Vallisney escreveu: "Estas nódoas à frente/ as fúrias pelos campos/ de extermínio, as moscas / do abandono, as febres / de insanos, os lenços esfarrapados / são farpas trituradas pela máquina / de moer teu coração na secadora / da insipidez da indiferença".


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