Folha de S. Paulo


Investigação indica conflito de interesse entre fundos de pensão e empresas

Relatórios da Operação Greenfield apontam pelo menos quatro casos com supostos conflitos de interesses em negociações entre fundos de pensão e grandes empresas em torno de recursos para investimentos privados.

Um ex-coordenador de desenvolvimento de negócios da Funcef (fundo de pensão dos funcionários da Caixa), Fábio Maimoni Gonçalves, por exemplo, virou diretor do braço da empreiteira Engevix beneficiado por um investimento de R$ 270 milhões.

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Em setembro de 2009, quando exercia seu cargo na Funcef, Gonçalves emitiu parecer recomendando investimento em um fundo controlado pela Engevix "usando argumentos supostamente técnicos, mas insustentáveis, e omitindo induzindo [sic] a diretoria executiva em erro ao omitir no parecer os dois valores mais baixos", segundo os investigadores.

Um ano depois, Gonçalves assumiu a vice-presidência da empresa Desenvix, ligada à Engevix, beneficiada pelo capital da Funcef e também investigada pela Greenfield.

Gonçalves, conforme os investigadores, também "teve um papel importante na formulação dos investimentos da Funcef na Invepar", braço da construtora OAS no qual os fundos de pensão fizeram uma aquisição direta de ações. Segundo a Greenfield, Gonçalves "era remunerado como conselheiro" da Invepar em 2009.

Em outro caso, Humberto Pires Grault Vianna, ex-diretor da Petros (fundo de funcionários da Petrobras) e atual gerente da Funcef, participou de decisão para apoiar um fundo ligado à Eldorado, da holding J&F, controladora da JBS, e depois se tornou diretor e presidente da Vitória Asset, que fora a gestora inicial do fundo de investimento.

Os investigadores acusam a Vitória Asset de ter feito uma avaliação errada dos bens da empresa controlada pela Eldorado.

"A fiscalização detectou a presença de um conflito de interesses entre os sócios do FIP (Fundos de Investimento em Participações) e a gestora, que não foi observado pela Funcef no seu estudo", diz relatório da Previc, responsável por fiscalização e controle de entidades fechadas de previdência complementar.

Um terceiro episódio envolve o fundo Multiner, voltado para unidades de energia termelétrica, tendo como personagem Guilherme Lacerda, ex-presidente da Funcef.

Gravações de uma reunião demonstram, segundo os investigadores, que Lacerda "foi alertado por um dos diretores presentes sobre o conflito de interesse (e de governança)" na decisão de aportar recursos em um fundo de investimento cuja gestora era a Vitória Asset.

Um quarto potencial conflito envolve a Lakeshore Financial, uma das cotistas do fundo de investimento criado pela empresa Sete Brasil com os fundos de pensão para apoiar a construção de navios para a Petrobras.

Segundo os investigadores, um casal, Luiz Fontoura de Oliveira Reis Filho e Cláudia Neder Reis, ingressou no quadro societário da Lakeshore no dia anterior à abertura das cotas do fundo de investimento. Luiz Reis era funcionário do banco e responsável pela assessoria financeira contratada pela Petrobras para o projeto de construção dos navios. Depois que entrou na Lakeshore, Reis "foi contratado pela Sete Brasil para prestar serviços de assessoria financeira".

OUTRO LADO

A defesa do ex-diretor-presidente da Funcef Guilherme Lacerda afirmou que acabou de ter acesso aos autos da Operação Greenfield e que se manifestará depois de analisá-los. O executivo está preso na Superintendência da PF em Brasília.

O empresário Luiz Fontoura de Oliveira Reis Filho, sócio da Lakeshore Financial Partners, não atendeu os telefonemas da reportagem.

Procurada, a empresa informou que não tem interesse em se manifestar.

A Funcef, via assessoria, também não quis se pronunciar sobre o envolvimento da empresa nos casos citados.

Humberto Pires Grault Vianna, ex-diretor da Petros e atual gerente da Funcef, e Fábio Maimoni Gonçalves, ex-coordenador de desenvolvimento de negócios da Funcef, que se tornou diretor de um braço da empreiteira Engevix à época da negociação, a Desenvix, não foram localizados. Na segunda (5), a Engevix disse que está colaborando com as autoridades.

Em nota, o holding J&F, controladora da JBS e dona da Eldorado, informou que sempre esteve à disposição das autoridades e que a relação do grupo com os fundos de pensão se pautou pela ética e pela impessoalidade.

Sobre o valor da participação dos fundos Petros e Funcef na Eldorado, a empresa disse que atualmente é de "R$ 3 bilhões, segundo laudos de duas renomadas auditorias independentes".


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