Folha de S. Paulo


Distribuidoras e dólar impulsionam jogos brasileiros no exterior

Zanone Fraissat/Folhapress
SAO PAULO/SP BRASIL. 02/09/2016 -Mauricio Alegretti Brasil Game Show, vice-presidente da produtora Smyowl durante a realizado na Expo Imigrantes.(foto: Zanone Fraissat/FOLHAPRESS, MERCADO)***EXCLUSIVO***
Mauricio Alegretti, vice-presidente da produtora Smyowl, durante a feira Brasil Game Show

O "Dodge This VR", game para celular produzido pela produtora Imgnation, de Santa Maria (RS), deve chegar em breve à China, um mercado com 380 milhões de usuários de smartphones. Mais de 95% da receita com o jogo, compatível com os óculos de realidade virtual Samsung Gear, vem do exterior.

"No mercado móvel, a receita com o mercado brasileiro é muito pequena. Você precisa pensar globalmente", diz Orlando Fonseca Júnior, diretor criativo da companhia, que emprega nove pessoas.

A facilidade de integrar lojas on-line internacionais (casos da Apple Store ou da PlayStore nos celulares ou de redes como a PSN, do videogame PlayStation) tem ajudado o acesso de produtores a mercados internacionais.

Os números ainda são modestos, apesar de crescentes: nos primeiros quatro meses deste ano, as exportadoras participantes de programa da Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos) e da Abragames (associação do setor) tiveram receita de US$ 9,3 milhões no exterior. Em 2015 todo, foram US$ 11 milhões.

De acordo com a consultoria Newzoo, a venda de jogos deve gerar US$ 1,3 bilhão no Brasil em 2016, o que colocaria o país como 12º mercado no mundo. A China lidera, com US$ 24,4 bilhões.

Os produtores brasileiros tentam superar problemas como a dificuldade de conseguir equipamentos para produzir e testar os games e de manter mão de obra qualificada, que acaba preferindo ir para mercados consolidados.

"É muito complicado trazer kits de desenvolvimento de consoles", diz André Pase, professor da PUC-RS.

Os chamados "dev-kits" são versões para testes dos consoles, que são taxados ao chegar ao Brasil e podem dobrar de valor.

O Brasil ainda não tem um jogo para console considerado "AAA", de altíssima qualidade para videogames, mas os lançamentos vêm crescendo. Um dos mais esperados no ano passado foi "Toren", da gaúcha Swordtales, feito para PlayStation 4 e PC.

"É bem difícil ter visibilidade no 'mobile', não é certeza de que você vai ter o retorno do investimento", diz Luiz Alvarez, um dos desenvolvedores do game. Só a App Store, loja de aplicativos da Apple, tem 650 mil jogos ativos, segundo contagem do site PocketGamer.

"Toren", que captou R$ 400 mil via Lei Rouanet, já gerou faturamento suficiente para cobrir os custos, diz Alvarez –a receita vinda de fora foi maior, embalada pela alta do dólar.

"Isso ajudou bastante todo mundo que exporta jogo, tem muita gente contratando por causa disso. O faturamento aumenta sem você fazer nada", afirma ele.

Os produtores não tiveram de pagar pelo kit de desenvolvimento por terem participado do programa de incubação da japonesa Sony, a fabricante do PlayStation.

No ano que vem deve chegar ao mercado o novo game da produtora mineira Overpower Studios, elogiada pela qualidade gráfica de "Scorching Skies", um game imersivo de combate aéreo para celular –o novo produto estará disponível também para PlayStation e computador.

DISTRIBUIÇÃO

No caso da maioria dos jogos que se internacionalizam, o título é distribuído por uma publicadora, que coloca o produto em diferentes lojas on-line, como PSN e Steam.

Mas, para tornar o game atrativo, às vezes não é suficiente apenas traduzir os jogos para o inglês ou, em outros casos, para a língua local. A adaptação envolve saber um pouco da cultura de cada lugar.

Mauricio Alegretti, vice-presidente da produtora Smyowl, de Sorocaba (SP), diz que sua equipe está vendo jogos de futebol na Rússia pelo YouTube para entender como é a narração –se mais empolgada como a brasileira ou mais sóbria como a europeia. O objetivo é adaptar "Super Button Soccer", game que simula jogo de botão para PC, para o mercado russo –70% da receita com o produto vem do exterior.

Alegretti diz que o fato de um jogo de futebol ter sido criado por brasileiros ajuda na hora do marketing. Mas, para produtos de outras temáticas, isso é irrelevante.


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