Folha de S. Paulo


Investidores estrangeiros começam a voltar ao país

Marcelo Justo/Folhapress
 Mercado financeiro: há quem acredite ser temerário montar perspectivas para a Bolsa de Valores; mas provavelmente haveria menos investidores arriscando no mercado de ações se não houvesse alguns mecanismos que permitem prever o comportamento do mercado
Fatia de recursos vindas de fundos de títulos de renda fixa de Brics atinge maior nível em um ano

O Brasil começou a recuperar parte do terreno que havia perdido para seus pares emergentes nos investimentos estrangeiros destinados ao mercado financeiro.

Depois de encolher desde 2014, a fatia de recursos que o país recebe de fundos globais voltados para a América Latina, os Brics (grupo formado por Brasil, Rússia, Índia e China) ou as nações em desenvolvimento como um todo sobe desde junho.

A parcela aplicada no país pelos fundos que investem exclusivamente em títulos de renda fixa de mercados emergentes atingiu 9,4% em julho, maior nível desde junho de 2015, segundo dados da consultoria EPFR Global.

No caso dos fundos de ações e renda fixa focados em América Latina, os percentuais de aplicações alocados no Brasil atingiram em julho os maiores patamares desde o segundo semestre de 2014, quando a economia do país começou a dar sinais claros de desaceleração.

Com a recessão em 2015 e o aprofundamento da crise política, os investimentos estrangeiros nos ativos do país caíram ainda mais, tendência que continuou até o primeiro trimestre deste ano.

Apesar da recuperação recente, as fatias dos recursos recebidos pelo Brasil em comparação a seus pares não voltaram para os patamares muito elevados registrados entre 2009 e 2010, quando o otimismo em relação ao país atingiu seu ápice.

Entrada de recursos de fora no mercado local - Em US$, milhões*

Especialistas afirmam que, além de modesta, a incipiente trajetória de recuperação tem sido marcada por altos e baixos e está sujeita a reversões repentinas.

Tudo vai depender, dizem, do andamento das reformas propostas pelo governo Michel Temer e de sua eficácia em contribuir para a retomada da atividade econômica.

"O investidor estrangeiro ainda está muito machucado com o Brasil. Houve muita volatilidade nos últimos cinco anos. Os fluxos só voltarão para valer se as reformas andarem e a economia reagir", diz Frederico Sampaio, diretor da Franklin Templeton.

Se a economia melhorar, analistas acreditam que, mesmo que os juros subam nos EUA no curto prazo, a atratividade do Brasil continuará aumentando. Isso porque o retorno dos investimentos em renda fixa no país ainda é muito elevado. A taxa de juros que remunera os títulos do governo americano oscila hoje entre 0,25% e 0,5%, ante 14,25% no Brasil.

No caso do mercado de ações, as apostas são que os preços, que já têm se recuperado, podem aumentar mais a reboque das reformas.

Mas especialistas ressaltam que, sem avanço nessa frente, o impacto do cenário externo poderá ser negativo.

"Com os juros muito baixos nos países desenvolvidos, o investidor estrangeiro pode ser mais complacente com o Brasil ainda que as reformas não tenham avançado. Mas isso tende a mudar", diz Julio Callegari, responsável pela área de renda fixa do JPMorgan Asset Management.

Fatia destinada por fundos especializados para o Brasil - Em % do total de investimentos previstos

RETOMADA RESTRITA

Segundo Callegari, a recuperação dos fluxos de investimentos estrangeiros para o Brasil tem sido direcionada aos ativos do país negociados no exterior, como títulos de empresas e do governo em dólares. Essas compras são lideradas pelos fundos focados em emergentes que resolveram aumentar sua exposição ao país, aproveitando os juros altos e apostando em retomada da economia.

No entanto, outros investidores –como grandes fundos de pensão de fora– permanecem longe do país. Isso explica por que os dados de entradas de dinheiro medidos pelo Banco Central no balanço de pagamentos refletem uma recuperação ainda fraca.

"Houve uma entrada para renda variável, mas, para renda fixa, ainda não. É cedo para falar em recuperação", diz a economista Julia Gottlieb, do Itaú Unibanco.

Segundo ela, a perda do grau de investimento (espécie de selo de bom pagador) pelo Brasil no ano passado limita a recuperação de entradas de recursos para o mercado de renda fixa.

Há grandes fundos institucionais que têm restrições para aplicar em países que não tenham essa nota de crédito.

Outro importante sinal de que investidores de fora mantêm um pé atrás em relação ao Brasil é a entrada ainda reduzida de investimentos estrangeiros diretos no país.

O saldo desse fluxo –considerado uma boa medida porque se destina ao mercado produtivo– foi de US$ 33,9 bilhões entre janeiro e julho deste ano, pouco abaixo dos US$ 36,9 bilhões registrados no mesmo período de 2015. Nos primeiros sete meses de 2014, esse número havia sido de US$ 55,4 bilhões.


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