Folha de S. Paulo


Gigante chilena do cobre, estatal Codelco afirma não ter "um centavo"

Rodrigo Garrido/Reuters
A worker monitors a process inside the plant at the copper refinery of Codelco Ventanas in Ventanas city, northwest of Santiago, Chile January 7, 2015. REUTERS/Rodrigo Garrido/File Photo ORG XMIT: LONX151
Trabalhador em refinaria da Codelco em Ventanas, no Chile

"Não há dinheiro, entendam, nenhum centavo." A frase, de Nelson Pizarro, presidente-executivo da maior produtora de cobre do mundo, a chilena Codelco, simboliza a atual situação da estatal.

Segundo ele, a empresa, criada em 1976 e que tem uma dívida de US$ 14 bilhões, passa pela pior crise da sua história. No primeiro semestre, a companhia teve prejuízo de US$ 97 milhões.

Como se o resultado não fosse suficiente, a empresa precisa se capitalizar para manter a produção —e o Estado ainda não indicou se poderá fazer essa injeção..

O problema ganha proporções maiores quando se considera a importância da mineração para o país. O cobre foi responsável diretamente por 10% do PIB e de 2,5% dos empregos chilenos em 2015 —em 2007, a participação na economia chegava a 20%.

Em 2015, só a Codelco gerou 2,5% do total arrecadado pelo Estado. Essa fatia, porém, caiu para 1,9% no acumulado até julho deste ano.

A estatal precisa hoje de US$ 18 bilhões para fazer seus investimentos e produzir 2 milhões de toneladas de cobre por ano em 2020.

"A situação vem piorando há uns cinco anos, principalmente porque o Estado restringiu ao máximo o orçamento de investimentos", disse à Folha o professor de economia Guillermo Pattillo, da Universidade de Santiago.

Pizarro já sinalizou que alguns projetos poderão ser cortados se não houver financiamento, o que afastaria a empresa da meta dos 2 milhões de toneladas. Hoje, a produção é de 1,7 milhão.

A redução da demanda global do cobre, sobretudo na China, e a subsequente queda do preço do produto também estão entre os fatores que desencadearam a crise da Codelco.

O valor do cobre diminuiu 21% no primeiro semestre em relação ao mesmo período de 2015. Se comparado com 2011, quando a cotação atingiu o seu auge, a retração é de 55%.

"O cobre é uma das commodities com pior resultado nos últimos anos", diz o argentino Juan Pablo Ronderos, da consultoria Abeceb.

DEBATE POLÍTICO

A crise provocou debate político. A senadora Isabel Allende, do Partido Socialista (o mesmo da presidente Michelle Bachelet) defendeu que se acabe com a lei que determina o repasse de 10% do valor das vendas da Codelco para as Forças Armadas.

O opositor e ex-presidente Sebastián Piñera também disse que é preciso mudar a lei e acrescentou que as pessoas não podem pensar que a estatal é "uma vaca leiteira".

Bachelet, que tem a aprovação de apenas 19% dos chilenos, afirmou que o governo está comprometido com a empresa, mas que é necessário avaliar a melhor forma para capitalizá-la.

Procurada, a assessora da Codelco disse que não comentaria o assunto.


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