Folha de S. Paulo


PIB do Brasil recua 0,6% no 2º tri e completa 6 trimestres de queda

A economia brasileira seguiu em recessão no segundo trimestre deste ano, mas apresentou ligeiros sinais positivos na indústria e nos investimentos. O PIB (Produto Interno Bruto), medida da produção e da renda do país, teve queda de 0,6% no segundo trimestre quando comparado aos três meses anteriores, para R$ 1,53 trilhão.

Os analistas consultados pela agência internacional Bloomberg previam uma queda de 0,5% do PIB, considerando o centro (mediana) das projeções, que variavam de queda de 0,9% a alta de 0,6%.

Recessão no Brasil
painel da bolsa de valores brasileira

Foi o sexto trimestre consecutivo de queda do PIB, a mais longa sequência pela atual série histórica das Contas Nacionais, do IBGE, iniciada no primeiro trimestre de 1996.

Pelos critérios do Comitê de Datação de Ciclos da FGV (Fundação Getulio Vargas), em parceria com o Conference Board, o atual ciclo de contração da atividade econômica foi iniciado há mais tempo, no segundo trimestre de 2014. A FGV considera um conjunto amplo de indicadores da economia, como o rendimento do trabalhador, não apenas o PIB.

PIB - Trimestre X trimestre imediatamente anterior, em %

Por este critério, são agora nove trimestres de recessão, a mais longa sequência desde a contração verificada entre o terceiro trimestre de 1989 e o primeiro trimestre de 1992, nos governos de José Sarney (1985-1989) e de Fernando Collor (1990-1992). A recessão do início da década de 1990 durou 11 trimestres.

"Os investimentos e a indústria mudaram o comportamento, mas não afetaram tanto por causa do peso dos serviços, que representam 72% do PIB", disse Rebeca Palis, gerente de Contas Nacionais, do IBGE.

SINAIS MELHORES

Os sinais positivos apareceram na indústria e nos investimentos, que, após vários trimestres em queda, apresentaram um leve avanço na passagem do trimestre.

O consumo das famílias e o setor de serviços continuam pesando negativamente no resultado.

Pelo lado da oferta, o PIB da indústria cresceu 0,3% de abril a junho em relação ao primeiro trimestre do ano, após cinco trimestres consecutivos de contração. Os destaques foram as indústrias extrativas e de eletricidade, que cresceram 0,7% e 1,1%, respectivamente.

No período de abril a junho, houve uma melhora no humor dos empresários, que anteviram na possível saída de Dilma Rousseff da Presidência o fim do impasse político que paralisou a economia.

Dilma foi afastada temporariamente da Presidência em 12 de maio.

O setor de serviços —que inclui desde comércio e atividade financeira a escolas privadas— registrou queda de 0,8% frente ao primeiro trimestre.

Foi a sexta retração consecutiva dos serviços, a mais longa sequência de contração da atual série estatística, com dados históricos da pesquisa, de 1996.

Os serviços representam mais de 60% do PIB e, sem sua recuperação, é difícil pensar em retomada da economia.

A surpresa ficou com a agropecuária, que caiu mais que o previsto: registrou uma queda de 2% nessa mesma base de comparação.

PIB por setores

DEMANDA

Na ótica da demanda, os investimentos —tecnicamente chamados de formação bruta de capital fixo— tiveram um incremento de 0,4% na comparação com os três primeiros meses do ano, após dez trimestres consecutivos no vermelho.

Já o consumo das famílias registrou queda de 0,7% na passagem do primeiro para o segundo trimestre.

Os consumidores cortaram gastos diante de um quadro de elevado endividamento, aumento do desemprego e queda na renda.

O consumo do governo —que inclui as esferas municipal, estadual e federal— teve uma queda de 0,5% na passagem do primeiro para o segundo trimestre.

COMPARAÇÃO ANUAL

Quando comparado com o mesmo período do ano passado, o PIB recuou 3,8%. A projeção majoritária de analistas de bancos, corretoras e consultorias consultados pela Bloomberg era de retração de 3,6%.

A expectativa dos economistas é que a economia estabilize ao longo deste segundo trimestre e volte a crescer entre o fim deste ano e o início de 2017.

Isso, porém, não evitará que o país tenha, em 2016, o segundo ano seguido de retração do PIB superior a 3%. Segundo o boletim Focus, do Banco Central, a expectativa é de contração de 3,1%.

Neste ano até junho, a contração é de 4,6%. No acumulado em quatro trimestres (equivalentes a 12 meses), a queda foi de 4,9%, recorde negativo na série histórica.

REVISÃO

O IBGE revisou o resultado do PIB desde o quarto trimestre de 2014 até o primeiro trimestre deste ano, sempre na base de comparação aos três meses anteriores.

O PIB do quatro trimestre de 2014 passou de alta de 0,2% para aumento de 0,3%. Já o dado mais recente, do primeiro trimestre de 2016, mudou de queda de 0,3% para uma baixa um pouco maior, de 0,4%.

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Entenda o que é o PIB

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