Folha de S. Paulo


Jornal impresso é fator-chave para receita publicitária, diz americano

Moacyr Lopes Junior/Folhapress
Earl J. Wilkinson, presidente-executivo da Inma, durante a palestra nesta terça (23)
Earl J. Wilkinson, presidente-executivo da Inma, durante a palestra nesta terça (23)

A conferência de 2016 da Inma, sigla em inglês para Associação Internacional de Mídia Jornalística, começou na tarde de terça (23), no auditório do Google, em São Paulo, com diagnósticos sobre o estágio atual da indústria de notícias no mundo e no Brasil.

O presidente-executivo da organização, o jornalista americano Earl Wilkinson, resumiu o quadro nos diversos países que visita com uma metáfora sobre os veículos com marcas estabelecidas e aqueles que já nasceram no ambiente digital: "Duas pontas de uma corda, queimando na direção uma da outra".

Segundo ele, enquanto jornais avançam nas plataformas digitais, sites como "Huffington Post", que surgiram on-line, já enfrentam dificuldades como desaceleração da audiência ou inconsistência da receita publicitária e fazem o caminho contrário.

"Eu acredito que, por volta de 2020, as duas pontas da corda vão se encontrar", disse Wilkinson. "A única coisa que vai diferenciá-los é o impresso. E a outra ponta da corda terá descoberto que um dos fatores-chave para gerar receita de publicidade é o impresso."

Citou o caso do site "Politico", cuja lucratividade viria majoritariamente de suas pouco conhecidas edições impressas.

Já o jornalista brasileiro Ricardo Gandour, pesquisador na Universidade Columbia, apresentou um estudo quantitativo de 60 Redações brasileiras, realizado entre março e maio de 2016, que mostrou que "mais jornais enxugaram o número de jornalistas do que o número de páginas".

De um lado, o levantamento comprova "um aumento de produtividade" dos jornalistas. De outro, indica "um perigo para a democracia, se as Redações mantiverem essa contínua redução de produção", acentuando a "tendência de os indivíduos ficarem expostos à informação oficial, chapa-branca".

Citou como evidência outro levantamento que fez, sobre a presença crescente dos governadores brasileiros no Facebook, entre 2013 e 2016.

"EL PAÍS"

O diretor-adjunto do "El País", David Alandete, relatou em seguida a transição por que passa a Redação do jornal espanhol, cada vez menos voltado ao impresso, a ponto de questionar a manutenção das edições em dias de semana, e mais às diversas plataformas digitais.

Afirmou que foram rompidos os limites estritos entre editorias, para acompanhar o andamento das próprias notícias, e que os correspondentes especializados permanecem atuantes, mas em suas casas ou em cobertura.

Sobre os profissionais mantidos na Redação da publicação espanhola, afirmou Alendete, "queremos que eles sejam flexíveis". Ele destacou que os responsáveis pela edição impressa foram isolados da Redação, há dois anos, num processo que enfrentou resistência.

Disse por fim que o objetivo é "fazer aquilo em que sempre fomos bons", jornalismo com profundidade, "apenas adaptado aos novos hábitos do leitor".


Endereço da página:

Links no texto: