Folha de S. Paulo


Bolsa cai 2,23% com BC americano e petróleo, mas dólar recua ante o real

Os mercados financeiros iniciaram a semana em clima de cautela. Boa parte das Bolsas globais fechou o pregão desta segunda-feira (22) em baixa, e o dólar se valorizou frente às maioria das moedas.

O Ibovespa encerrou em queda de 2,23% —a maior desde 24 de junho deste ano (-2,82%). Entretanto, a moeda americana caiu ante o real, em meio às expectativas em relação à conclusão o processo de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff.

O principal motivo para o mau humor externo foram as declarações feitas no fim de semana pelo vice-presidente do Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos), Stanley Fischer. O dirigente afirmou que o Fed está perto de bater suas metas de pleno emprego e de inflação, o que abriria espaço para uma alta dos juros no país em breve.

Uma eventual elevação dos juros nos Estados Unidos direcionaria recursos principalmente para títulos do Tesouro americano.

Fischer é o quarto integrante do Fed em uma semana a sinalizar uma possível alta das taxas ainda neste ano, apesar de a ata da última reunião do BC americano ter indicado que serão necessários mais dados econômicos antes da tomada de uma decisão.

As atenções dos investidores, agora, estão concentradas no discurso que a presidente do Fed, Janet Yellen, fará na próxima sexta-feira (26) no encontro anual de presidentes de bancos centrais, em Jackson Hole (Wyoming).

"Até lá, os volumes de negócios devem permanecer fracos, com os investidores aguardando alguma sinalização de Yellen sobre o rumo dos juros americanos", avalia Vitor Suzaki, analista da Lerosa Investimentos.

"O que deixou o mercado em alerta é que as opiniões de Fischer normalmente convergem com as de Yellen", acrescenta Suzaki.

Outro fator que influenciou os mercados é o petróleo, que caiu mais de 3% neste pregão. Notícias sobre aumento da produção da commodity no Iraque e na Nigéria ajudaram a derrubar os preços, já pressionados pela alta global do dólar.

CÂMBIO E JUROS

O dólar comercial caiu 0,21%, a R$ 3,2020, enquanto o dólar à vista recuou 0,26%, a R$ 3,2203.

Segundo analistas, as expectativas em relação à conclusão do processo de impeachment de Dilma Rousseff, cujo julgamento começa nesta quinta-feira (25), impediram a valorização do dólar frente ao real.

Analistas afirmam que se espera uma forte entrada de recursos no país após o impeachment, e que a saída definitiva de Dilma já estaria precificada pelo mercado.

As declarações do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, de que o câmbio é flutuante, também impulsionaram o real, segundo analistas. Meirelles afirmou, em entrevista à revista "Veja", que "a experiência mostra que o dólar mais baixo beneficia os investimentos no setor produtivo, ao favorecer a importação de máquinas, equipamentos e tecnologia". Segundo ele, o comércio exterior representa um porcentual relativamente pequeno na economia brasileira, e o que puxa a recuperação é a demanda interna.

DÓLAR
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NOTAS DE DÓLAR

Pela manhã, o BC leiloou 10.000 contratos de swap cambial reverso, no montante de US$ 500 milhões. A operação equivale à compra futura de dólares.

Os juros futuros fecharam em alta. O contrato de DI para janeiro de 2017 subiu de 13,980% para 13,985%; o DI para janeiro de 2018 avançou de 12,690% para 12,710%; e o contrato de DI para janeiro para 2021 subiu de 11,870% para 11,910%.

O CDS (credit default swap) brasileiro, espécie de seguro contra calote e indicador de percepção de risco, ganhava 0,72%, aos 254,467 pontos.

BOLSA

O Ibovespa encerrou o pregão em queda de 2,23%, aos 57.781,24 pontos. O giro financeiro foi fraco, de R$ 5,8 bilhões.

"Os investidores aproveitaram para vender ações e embolsar os lucros, já que a Bolsa subiu muito recentemente", avalia Ari Santos, gerente de renda variável da corretora H.Commcor. No acumulado do ano, o Ibovespa ganhou mais de 33%.

Segundo operadores, boa parte das vendas foi feita por investidores estrangeiros, que já retiraram R$ 888 milhões da Bolsa neste mês, até o último dia 18.

As ações da Petrobras perderam 3,44%, a R$ 12,35 (PN), e 3,91%, a R$ 14,47 (ON), pressionadas pela forte queda do petróleo.

O petróleo Brent, negociado em Londres, perdia 3,34%, a US$ 49,18 o barril; o petróleo tipo WTI, negociado em Nova York, caía 3,03%, a US$ 47,05 o barril.

As ações da Vale recuaram 3,71%, a R$ 15,57 (PNA), e 3,66%, a R$ 18,38 (ON). Entre as siderúrgicas, CSN ON caiu 8,32%; Gerdau PN, -5,93%; Gerdau Metalúrgica PN, -5,25%; e Usiminas PNA, -5,98%.

No setor elétrico, destaque para Cemig PN, que recuou 4,25%.

No setor financeiro, Itaú Unibanco PN perdeu 1,87%; Bradesco PN, -2,14%; Bradesco ON, -1,74%; Banco do Brasil ON, -3,06%; Santander unit, -1,31%; e BM&FBovespa ON, -1,03%.

EXTERIOR

Na Bolsa de Nova York, o índice S&P 500 terminou em queda de 0,06%; o Dow Jones, -0,12%; e o Nasdaq, +0,12%.

Na Europa, a Bolsa de Londres fechou em baixa de 0,44%; Paris, -0,24%; Frankfurt, -0,47%; Madri, +0,21%; e Milão, +0,36%.

Na China, o índice CSI300, que reúne as maiores companhias listadas em Xangai e Shenzhen, teve queda de 0,84%, a maior queda percentual desde 1° de agosto. O índice de Xangai perdeu 0,75% na sessão.

Por outro lado, o iene mais fraco ajudou o índice Nikkei do Japão, que fechou em alta de 0,32%.


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