Folha de S. Paulo


Retomada da economia brasileira deve demorar anos, indica FGV

O Brasil está deixando a crise para trás, mas indicadores sugerem que o ritmo da retomada será lento. Analistas do mercado financeiro preveem que a recessão deverá terminar neste segundo semestre, e o país poderá voltar a crescer em 2017.

Integrantes da equipe econômica do governo começaram a falar nos últimos dias na possibilidade de a economia crescer acima de 1,5% no ano que vem. Grandes bancos, como o Bradesco e o Itaú, têm projeções positivas. O Bradesco prevê uma expansão de 1,5% e o Itaú, de 1%.

O ritmo da expansão promete ser mais fraco do que após as últimas crises, prevê o economista Paulo Pichetti, da FGV, responsável pelos indicadores usados na datação dos ciclos econômicos.

"Esta recessão está fora do padrão das últimas quatro", diz Pichetti, referindo-se à dificuldade de se confirmar a saída da atual contração econômica. "A natureza da recuperação, quando ela vier, será de menor intensidade, mais fraca."

Em sua opinião, o ajuste nas contas do governo, prometido pelo presidente interino, Michel Temer, "não é expansionista", o que não ajuda a estimular uma taxa de crescimento muito acelerada nos anos seguintes à crise.

O economista José Márcio Camargo, sócio da gestora de investimentos Opus, diz que é "possível, porém improvável" que o Brasil alcance a expansão acima de 1,5%. Em sua estimativa, o crescimento será de 0,5%.

"Os economistas dizem que o Brasil sempre se recupera rápido. Depende da recessão", diz Camargo. "As empresas e as famílias estão endividadas, os bancos continuam restringindo crédito, é pouco provável que cresça mais do que 1%, é um sonho."

Esse e outros problemas estruturais farão com que a saída desta recessão seja diferente das mais recentes, na avaliação de Camargo.

MOTORES

Economistas do Itaú Unibanco analisaram o que ocorreu em países que tiveram recessões de, no mínimo, dois anos desde 1980. São crises parecidas com a que o Brasil atravessa hoje, iniciada no segundo trimestre de 2014.

Concluíram que, após o último ano de contração do PIB, eles cresceram, em média, 4,7% por três anos seguidos. Com isso, conseguiram recuperar o patamar de produção pré-crise em quase cinco anos.

"Os motores das recuperações normalmente são depreciação cambial e corte de juros", diz Laura Pitta, uma das economistas do banco responsáveis pelo estudo.

Segundo ela, o real se depreciou bastante em relação ao dólar desde o início da crise e os juros devem começar a cair em outubro. Mas esses fatores, diz Pitta, não são garantia de que o ritmo de recuperação do país será forte.

Segundo previsões coletadas pelo Banco Central, o Brasil deverá crescer em média 1,8% ao ano entre 2017 e 2019, menos da metade do ritmo observado pelos países estudados pelo Itaú Unibanco.

Se isso se confirmar, o país vai demorar para retomar a produção anterior à da crise.

Apesar do ritmo lento da retomada, Igor Velecico, economista do Bradesco, ressalta que o fato de a economia estar entrando em uma fase de estabilização já é positivo.

"Há dois meses não havia consenso nem sobre isso", diz o economista.

Segundo ele, alguns dados como importações de bens de capital e confiança de empresários na retomada têm vindo fortes. Mas Velecico concorda que esse ritmo é relativamente lento. A principal diferença é que, ao contrário do ocorrido após recessões do passado, o país não conta a expansão da economia mundial, que continua a se recuperar a passos lentos.

"O Brasil deverá sair num ritmo mais devagar dessa recessão do que das outras crises que já atravessou. Isso porque das outras vezes houve forte contribuição do crescimento global, que não ocorrerá dessa vez", afirmou.

RECUPERAÇÃO? - Indicadores sugerem que retomada está por vir, mas com menos força


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