Folha de S. Paulo


Investimento chinês no Brasil cresce e começa a se diversificar

Leticia Moreira/ Folhapress
Passageiros embarcam em voo da companhia aérea Azul
Passageiros embarcam em voo da companhia aérea Azul

Barateadas pelo câmbio e com problemas financeiros, empresas brasileiras viraram alvo de investidores chineses. Desde janeiro, eles desembolsaram US$ 10,6 bilhões em aquisições no Brasil, mais do que o dobro dos US$ 5 bilhões registrados no ano passado inteiro, segundo levantamento da consultoria Dealogic.

A cifra representa quase 60% do valor total investido por estrangeiros em fusões e aquisições de empresas no país neste ano, mas ainda é uma fração dos US$ 53 bilhões prometidos pelo primeiro-ministro chinês Li Keqiang durante sua visita ao Brasil, em maio de 2015.

O grosso do dinheiro chinês se concentrou neste ano em cinco negócios, mas a lista pode aumentar até o fim do ano, por causa da desvalorização de muitas empresas brasileiras. Segundo a agência Bloomberg, o valor de mercado de 73 companhias nacionais listadas na Bolsa está abaixo do valor contábil.

NEGÓCIO DA CHINA - Cresce investimento do país asiático no Brasil

Enquanto o Brasil está barato, os chineses têm recursos abundantes para superar as ofertas de outros competidores nas negociações.

Na maior aquisição feita no país pelos chineses nos últimos dois anos, a estatal State Grid ofereceu pela participação da empreiteira Camargo Corrêa na distribuidora de energia CPFL um prêmio de 21,6% acima do preço das ações da empresa na época em que o negócio foi fechado.

A State Grid agora negocia com os acionistas que dividem o controle da companhia com a Camargo Corrêa, o fundo de pensão Previ e a Bonaire Participações. Eles também devem aceitar vender suas ações diante do prêmio oferecido, segundo relatório do banco Credit Suisse.

Se a aquisição da CPFL for confirmada, será a maior oferta pública de compra já feita na história do Brasil, avaliada em US$ 8,7 bilhões.

"Os investidores chineses têm visão de longo prazo e por isso aceitam pagar mais. São diferentes dos investidores circunstanciais, que querem comprar hoje para vender daqui a dois anos", afirma o advogado Rabih Nasser, professor da Fundação Getúlio Vargas e especializado em investimento estrangeiro.

CONCESSÕES

Com as maiores construtoras brasileiras em crise por causa das investigações da Operação Lava Jato, o governo do presidente interino, Michel Temer, passou a apostar nos investidores estrangeiros para viabilizar um novo pacote de privatizações e concessões de infraestrutura.

Temer planeja viajar à China para participar de um encontro do G20 em setembro, logo após a conclusão do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff.

"O governo está tentando melhorar o quadro regulatório e estamos animados com isso", diz Li Yinsheng, presidente-executivo da China Three Gorges (CTG) no Brasil.

Ao lado da State Grid, a CTG é uma das principais empresas chinesas no Brasil. No ano passado, a companhia do setor energético pagou US$ 3,7 bilhões pela operação das hidrelétricas de Ilha Solteira e Jupiá, no Paraná.

Segundo Yinsheng, o Brasil é o mercado mais importante fora da China para a empresa, que também atua no Sudeste Asiático e na Europa. "Nossa estratégia é sempre de investimentos de longo prazo", diz. "Há um mercado de 200 milhões de pessoas no Brasil, então você tem uma demanda de energia futura."

Perguntado sobre novas aquisições, ele afirma que a CTG busca "oportunidades" na área de energias renováveis, sem entrar em detalhes.

O interesse chinês concentra-se nas áreas de infraestrutura e commodities, dentro da estratégia do país asiático de garantir o fornecimento de recursos para seu gigantesco parque industrial. Nos últimos anos, porém, eles começaram a se aventurar em novos setores, de olho no mercado doméstico brasileiro.

Três dos dez maiores negócios entre 2015 e 2016 envolveram aviação, o mercado financeiro e o setor automotivo.

"Eles estão olhando mais para bens de consumo duráveis, como automóveis e eletrodomésticos da linha branca. Sei também de manifestações de interesse para entrada em uma rede de varejo", diz Luiz Neves, presidente do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC) e ex-embaixador do Brasil no país asiático.

O conselho está organizando um encontro de empresários dos dois países no início de setembro, para aproveitar a viagem de Temer à China. Luiz Neves diz que o objetivo é aproveitar a viagem para selar e anunciar novos acordos empresariais.

Top 10 aquisições chinesas entre 2015 e 2016 -


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