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Com risco maior de calote, BNDES tem primeiro prejuízo em 13 anos

Rafael Andrade/Folhapress
Prédio do Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES), no centro do Rio de Janeiro
Prédio do Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES), no centro do Rio de Janeiro

Com provisões para risco de crédito e baixa no valor de ativos, o BNDES registrou, no primeiro semestre de 2016, seu primeiro prejuízo em 13 anos, de R$ 2,174 bilhões.

Segundo o banco, o mau desempenho reflete "o cenário econômico brasileiro desfavorável nos primeiros seis meses deste ano".

No primeiro semestre de 2015, o banco teve lucro de R$ 3,5 bilhões.

As perdas foram provocadas por provisões e baixa no valor contábil de ativos no valor total de R$ 9,6 bilhões.

"No primeiro semestre, a economia se deteriorou bastante, principalmente com relação às incertezas políticas", disse a superintendente de controladoria do BNDES, Vânia Borgerth.

As provisões por risco de crédito refletem a revisão da classificação de risco de empresas financiadas pela instituição e somou R$ 4,4 bilhões.

Isto é, com a piora dos balanços das empresas brasileiras, o banco foi obrigado a separar mais dinheiro para compensar possíveis calotes.

A classificação de risco é feita por equipe interna, com base em informações de balanço e notícias sobre as empresas. É revista a cada seis meses.

No mesmo período de 2015, as provisões de risco de crédito somavam R$ 480 milhões. No fim do ano passado, era de R$ 988 milhões.

Os ajustes no valor dos ativos (chamados de impairments) diante da perda de valor de mercado das empresas nas quais o banco tem participação acionária foram de R$ 5,2 bilhões.

O banco não quis citar nomes de empresas que tiveram a classificação de risco rebaixada nem daquelas cujo valor de mercado foi reduzido.

Questionada se o elevado valor das provisões indica que o banco poderia ter errado na avaliação em anos anteriores, Borgerth disse que o BNDES "sempre foi conservador em sua análise".

"A justificativa maior é a prudência bancária."

Para o economista Maurício Canêdo, da FGV, porém, o mau resultado também reflete a forte expansão experimentada pelo banco nos últimos anos.

"O banco aumentou a carteira de crédito de maneira equivocada, desembolsando grandes volumes para um número grande de empresas e hoje sofre com maior risco de calotes", analisa.

O nível de inadimplência cresceu forte no primeiro semestre de 2016, passando de 0,02%, em dezembro de 2015, para 1,38%. O banco, porém, defende que o nível ainda é "muito baixo".

"Alguns setores, como a construção civil, foram bastante beneficiados e hoje se encontram em grandes dificuldades, por causa da Operação Lava Jato e da crise da Petrobras", diz Canêdo.

O resultado de intermediação financeira do BNDES cresceu 25,2%, para R$ 12,235 bilhões, reflexo do menor volume de desembolsos em um semestre de crise.

A carteira de crédito e repasses do BNDES atingiu R$ 646,924 bilhões, uma redução de 7% em relação a dezembro de 2015.

O banco fechou o primeiro semestre com patrimônio líquido de R$ 36,876 bilhões, alta de 19% em relação ao fim de 2015.


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