Folha de S. Paulo


Investimento chinês no Laos altera os rumos de rio na Ásia

Lilian Suwanrumpha/AFP
Trabalhador coleta seixos no rio Mekong, no Laos

O investimento chinês no mercado imobiliário no Laos está afetando o rio Mekong, que tem uma das maiores biodiversidades do planeta, além de ser o maior pesqueiro de água doce do mundo.

Todos os dias caminhões levam toneladas de areia do Mekong que serão usadas na mistura com cimento que ergue prédios no país asiático.

Um dos problemas é que essas escavações estão deixando crateras dignas da lua e mexendo com o leito do rio, afetando um canal que alimenta centenas de milhares de pessoas, de pescadores a agricultores.

"Hoje em dia está muito mais complicado para a gente conseguir água para as plantações", conta Deam Saengarn, 36, que é um retrato das contradições enfrentadas pelo Laos: ao mesmo tempo em que depende do rio para plantar, ela trabalha, por US$ 10 (R$ 32) diários, para uma empresa que atua na extração de areia do Mekong.

Essa é uma história bastante comum no Laos, um país cujos recursos naturais vêm sendo cada vez mais afetados pelos interesses das empresas (muitas delas chinesas), sob o olhar de líderes comunistas que não toleram nenhuma forma de dissidência, mas aceitam de bom grado o investimento estrangeiro.

Os chineses são os principais investidores estrangeiros no Laos, país que faz fronteira com a Tailândia e tem uma população de quase 7 milhões de habitantes.

A dragagem para extração de areia acontece há anos no Mekong, mas na atual escala industrial é novidade no Laos. A matéria-prima, usada para fazer cimento, ganha forma em várias construções na capital do país, Vientiane.

"Nós temos muitos clientes chineses. Eles estão construindo prédios enormes em Vientiane, então precisam de muita areia e seixos", afirma Air Phangnalay, que ajuda a comandar uma companhia de extração de areia.

A China é o principal consumidor mundial de areia. O país responde por 60% do consumo da produção global e usou mais areia em quatro anos do que os Estados Unidos utilizaram em todo o século passado.

ECOSSISTEMA

Especialistas afirmam que a escalada na extração de areia do Mekong está afetando o ecossistema de um rio que atinge mais de 60 milhões de pessoas na Ásia.

Segundo pesquisa que teve ajuda da ONG WWF, o Mekong produz cerca de 20 milhões de toneladas de sedimentos por ano, mas o dobro disso está sendo extraído anualmente -no Laos e também no Camboja e no Vietnã.

Para Marc Goichot, especialista da WWF, esse ritmo é insustentável e provoca a salinização do rio, prejudicando peixes e agricultura.


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