Grandes negócios do setor de educação, como a possível formação de um gigante com 1,5 milhão de alunos resultante da união das duas maiores instituições de ensino superior privado do país, Kroton e Estácio, começam a desencadear reações das empresas de porte menor.
É um mercado pulverizado, com mais de 2.000 instituições, das quais 83% têm até 5.000 estudantes. Elas já estão se unindo em consórcios para ganhar poder de barganha com fornecedores.
A primeira iniciativa foi a Sthem Brasil, rede gestada em 2015 por 11 instituições públicas e privadas e que hoje reúne 44 membros, como Faap, PUC Goiás e Unit. A Sthem já compartilha mais de US$ 200 mil neste ano para capacitação de professor, segundo Fábio Reis, professor da Unisal, que iniciou o consórcio.
A inspiração veio de uma rede americana que compartilha de ônibus e moradia a currículos, permitindo que os alunos cursem disciplinas em diferentes escolas.
"É mais fácil negociar a compra de 10 mil livros que só mil. As pequenas e as médias, que não tinham tradição de se juntar, viram que a concentração dá aos grandes grupos mais poder de compra em grande escala", diz Reis.
A partir de agosto, o Semesp (Sindicato das Mantenedoras de Ensino Superior) começará a formar um consórcio na região de Campinas para compartilhar serviços administrativos, segundo José Roberto Covac, diretor do sindicato. A ideia é unificar compras de livros, computadores, manutenção de prédios e contratos de planos de saúde.
EFICIÊNCIA
Nas grandes, o ganho de escala proporcionado pela consolidação favorece a busca por eficiência de custo, o que em educação significa reduzir gasto com professor e elevar a parcela de aulas on-line.
O resultado da Kroton mostra que a empresa reduziu de 34% no início de 2015 para 29,4% neste ano o peso do custo dos serviços prestados em relação à receita líquida.
A queda, que a empresa considera expressiva, se deve principalmente à implantação de um software que reduziu custos com professor. É uma tecnologia que reúne alunos de cursos ou semestres diferentes em disciplinas coincidentes para maximizar o número de estudantes por sala.
"Às vezes, dez alunos a mais fazem toda a diferença entre uma turma que tem margem ou não. É como um avião que viaja com dez lugares a mais ocupados", diz Mario Ghio, vice-presidente acadêmico da Kroton.
Outro rumo foi expandir o uso de aulas on-line, cuja estrutura de custos é mais barata. O Ministério da Educação permite que cursos presenciais tenham até 20% da carga horária ensinada por métodos a distância, possibilidade que a Kroton já aplica à maior parte dos cursos.
As outras companhias de capital aberto, Estácio, Ser e Anima, também mencionam, em relatórios, suas iniciativas para racionalizar gastos e reduzir a despesa de pessoal.