Folha de S. Paulo


Peritos dizem que crise deixou segurados mais agressivos

Rivaldo Gomes/Folhapress
Desempregados têm recorrido a pedidos de afastamento para se proteger de eventual perda de renda
Desempregados têm recorrido a pedidos de afastamento para se proteger de eventual perda de renda

Uma tendência observada pelos peritos da previdência social nesta crise é que trabalhadores com emprego e também os desempregados têm recorrido a pedidos de afastamento como forma de se proteger de uma eventual perda de renda.

"Toda vez que uma crise econômica começa, notamos que uma das portas usadas pelos trabalhadores para manter renda é o INSS", diz a perita baiana Edriene Teixeira, 45. "Essas pessoas vão para a perícia no espírito do 'tudo ou nada'".

Teixeira recebeu socos e puxões de cabelo quando recusou a extensão do benefício a uma trabalhadora que alegava incapacidade por LER (lesão por esforço repetitivo).

A Associação Nacional de Médicos Peritos (ANMP) afirma que, no atual contexto de crise, vem aumentando os casos de agressão a peritos, quando há recusa nos pedidos de benefício.

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Segundo o presidente da entidade, Francisco Cardoso Alves, só no primeiro semestre deste ano, foi registrado quase o mesmo número de agressões físicas e verbais contra peritos que em todo ano passado —487 neste ano contra 606 em 2015.

"Temos percebido nessa crise que principalmente o desempregado que tem requerido o benefício age com muita agressividade durante a perícia", afirma Alves.

O período de carência para um desempregado pedir o benefício vai de um a três anos, mas o tempo médio é, normalmente, um ano. Como a escalada do desemprego começou em 2015, os pedidos estão chegando neste momento às portas do INSS.

O instituto contesta os dados da entidade. Segundo o INSS, as denúncias de agressões diminuiu neste ano, mas não revelou o número de computa.

Segundo o órgão, no ano passado 357 mil desempregados recorreram ao auxílio-doença. Neste ano, o número recuou para 300 mil.

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SOBRECARGA NO SUS

Os impactos da piora na saúde mental, em decorrência da crise econômica, incidem ainda sobre aumentos de gastos públicos com saúde.

Secretário de saúde do Estado de São Paulo, David Uip observa que o sistema público passou a receber a clientela que, sem plano de saúde, está recorrendo ao serviço estatal.

"Estou com o mesmo orçamento e tenho que atender quem eu já atendia e também essa demanda nova", diz ele.

Segundo ele, isso está fazendo com que as despesas com a saúde extrapolem o orçamento obrigatório destinado à pasta, de 12% da receita do Estado. "Houve menor arrecadação com a crise e os gastos são os mesmos. Assim, gastamos 12,76% da receita em 2015 e, neste ano, o percentual será mais alto", diz.

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