Folha de S. Paulo


Acordo entre Estácio e Kroton vai movimentar educação a distância

Ricardo Moraes - 30.jun.16/Reuters
A building of Estacio college is pictured in Rio de Janeiro, Brazil, June 30, 2016. REUTERS/Ricardo Moraes ORG XMIT: RJO09
Unidade da Estácio no Rio

Após o acordo assinado na sexta-feira (8) entre os conselhos de administração da Kroton e da Estácio para unir as duas companhias, o mercado de ensino superior se prepara para abrir a temporada de negociações das instituições de cursos a distância.

Para ser concretizada, a transação Kroton/Estácio precisa passar pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) e, devido à concentração no segmento de ensino remoto, especialistas estimam que a solução sugerida incluirá a venda de algum ativo da modalidade.

Líder na educação presencial, a Kroton é também dona das duas maiores marcas de ensino a distância, a Unopar e a Uniderp, que juntas correspondem a cerca de 40% do total de matrículas —a Estácio, sétima maior, tem 3,6% desse mercado.

Para especialistas, o mais provável é que a companhia combinada tenha que colocar à venda a UniSEB, instituição a distância da Estácio. Operação semelhante ocorreu com a Uniasselvi, vendida pela Kroton como condição para que o Cade aprovasse a compra da Anhanguera, anunciada em 2013.

O segmento de cursos a distância é hoje uma aposta das grandes companhias devido ao custo mais baixo para a instituição e o aluno.

O modelo saiu de uma fatia de 0,8% do mercado privado em 2004 para mais de 20% em 2014, segundo o Ministério da Educação. Para 2016, a estimativa é que se aproxime de 30%, segundo a consultoria Hoper Educação.

ENSINO DISTANTE - Proporção de alunos no ensino a distância avança no país

Desde que o governo anunciou, no fim de 2014, restrições ao Fies (crédito estudantil), o ensino a distância voltou a ser para o aluno de baixa renda uma opção de obter diploma a preços acessíveis.

O ensino a distância não é atendido pelo Fies e por isso não sofreu o impacto do enxugamento do programa.

"Com menos dinheiro circulando, mensalidades mais baratas são mais atrativas e os cursos a distância têm essa vantagem", afirma William Klein, presidente da Hoper.

A mediana das mensalidades da graduação que pode ser feita pelo computador —é preciso um espaço físico para fazer provas e consultar bibliotecas— caiu de R$ 327 em 2012 para R$ 290 neste ano. Na direção contrária, a taxa do presencial foi de R$ 667 para R$ 755 no período, aponta levantamento da Hoper.

"O on-line é mais barato porque a diluição dos custos é maior", diz Jânyo Diniz, diretor da Ser Educacional, que começou a atuar no ensino a distância em 2015. A Ser tentou se fundir à Estácio, para aproveitar sua tradição na educação remota, mas perdeu o páreo para a Kroton.

"Houve um processo de migração [do presencial para o ensino a distância] principalmente dos alunos que têm dificuldade de pagar", diz Benhur Gaio, reitor da Uninter.

QUALIDADE

Do ponto de vista da qualidade, embora seja questionada por educadores, o curso a distância equivale ao presencial porque também está sujeitos a requisitos do MEC.

"Não podemos ser contra esse modelo, devido à possibilidade de formar os rincões. Mas é preciso observar a retenção do aluno, o papel do professor, quantos alunos estão sob a responsabilidade de um tutor", diz Celso Napolitano, Fepesp (federação de professores de São Paulo).

A Abed (Associação Brasileira de Educação a Distância) diz que o maior obstáculo das instituições é a evasão.

A evasão nessa modalidade é "monstruosa", segundo Carlos Monteiro, presidente da consultoria especializada CM, que calcula que em torno de 50% a 60% desistem dos cursos antes de concluir.

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KROTON /1º TRI.2016
receita líquida: R$ 1,27 bilhão
lucro líquido: R$ 505,9 milhões
dívida líquida: R$ 137,2 milhões

ESTÁCIO /1º TRI.2016
receita líquida: R$ 793 milhões
lucro líquido: R$ 128,5 milhões
dívida líquida: R$ 568,9 milhões


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