Folha de S. Paulo


Teremos medidas impopulares 'a partir de certo momento', diz Temer

Após receber carta de apoio de 46 entidades do agronegócio em evento em São Paulo, o presidente interino, Michel Temer (PMDB), disse nesta segunda-feira (4) que o governo pode começar a adotar "medidas impopulares".

Temer foi muito aplaudido ao dizer que coloca decisões econômicas acima de interesses eleitorais.

"Estamos em um sistema de muita contenção. A contenção não começou a aparecer ainda, daí a importância desse documento [carta de apoio do agronegócio], como outros setores da indústria e dos varejistas, que também me procuraram para revelar apoio", disse.

"Esse apoio é fundamental porque a partir de certo momento, começaremos com medidas, digamos assim,mais impopulares", afirmou, sem especificar quais seriam.

MEDIDAS ECONÔMICAS
Veja as principais ações do governo Temer

"As pessoas me perguntam. 'Você não teme propor medidas impopulares?' Não. Porque o meu objetivo não é eleitoral. O meu objetivo, nesses dois anos e meio, se eu ficar dois anos e meio, é conseguir colocar o Brasil nos trilhos, é o que basta. Não quero mais nada da vida pública", afirmou, sob aplausos.

Pouco antes, ele minimizara o reajuste ao funcionalismo aprovado na Câmara e que custará R$ 58 bilhões e pode afetar a meta fiscal deste ano, de deficit de R$ 170 bilhões.

Ele lembrou que os reajustes serão distribuídos ao longo de quatro anos, pré-fixados, abaixo da inflação. Sem os aumentos, complementou, setores realizariam greves, algo "desastroso politicamente", admitiu. "Está tudo previsto no Orçamento e no deficit de R$ 170 bilhões", disse.

O presidente não entrou em detalhes, mas um dos temores dos empresários é que uma das medidas seja aumento de impostos. O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, não descarta a opção para poder aumentar a arrecadação do governo e melhorar as contas públicas.

No encontro com o agronegócio, Temer disse que conta com a iniciativa privada para a recuperação econômica. "Ter lucro não é pecado". O interino disse que programas sociais como Minha Casa, Minha Vida e Bolsa Família são necessários, mas que "não há nada mais indigno que o desemprego".

"Para recuperar o emprego, é preciso que a indústria cresça, o agronegócio cresça, o comércio cresça", afirmou.

Temer disse que pretende viajar a diversos países para pedir o investimento estrangeiro no Brasil, depois de o Senado julgar em definitivo o processo de impeachment de Dilma Rousseff, caso confirme sua saída.

DECORATIVO

Ao agradecer o apoio do agronegócio, Temer usou a mesma citação em latim endereçada à Dilma quando enviou carta reclamando de seu papel "decorativo" enquanto vice-presidente.

""Verba volant, scripta manent." As palavras voam, os escritos se mantêm", disse. O presidente interino também voltou a falar da necessidade de "pacificação" e "união nacional".

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), também presente ao evento, manifestou apoio a Temer.

"O destino colocou sobre suas mãos, presidente, esse grande desafio de retomar a primavera da democracia, do desenvolvimento e da paz. Conte conosco para as reformas inadiáveis de que o Brasil precisa para que possamos chegar à terra prometida", afirmou Alckmin.


Endereço da página:

Links no texto: