Folha de S. Paulo


Associação defende uso do salto alto para 'empoderar' mulheres japonesas

Toshifumi Kitamura/AFP
'Madame' Yumiko (à direita) em aula de como usar salto alto

Qual a solução para "empoderar" as mulheres em uma sociedade marcada por séculos pelo machismo? Para uma associação japonesa de mulheres, a resposta é simples: usar salto alto.

A Associação do Salto Alto do Japão defende que as mulheres do país abandonem as sapatilhas e adotem o salto. Segundo ela, ao ficarem mais altas, as mulheres se sentirão mais confiantes –e melhorarão a postura.

"As japonesas caminham como patas", diz a diretora da entidade, "madame" Yumiko, 48, uma ex-bailarina.

Críticos dizem que a ideia é risível e sexista, especialmente porque as mulheres no Japão ainda lutam contra uma forte cultura patriarcal, que até pouco tempo atrás esperava que elas andassem três passos atrás do homem.

Ainda assim, as aulas da associação que ensinam as mulheres a andar de salto alto são muito populares. Até agora 4.000 estudantes já pagaram cerca de R$ 12,5 mil por um curso de seis meses –e várias escolas estão surgindo por todo o país oferecendo o mesmo serviço.

Para Yumiko, o salto é uma forma de abrir a mente e deixará as japonesas mais confiantes. "Muitas mulheres são tímidas demais para se expressar. Na cultura japonesa, não se espera que as mulheres se destaquem nem se coloquem em primeiro lugar."

"O salto é um item essencial para a mulher moderna sentir orgulho e confiança", disse Ayako Miyata, 44, uma das alunas da associação.

CONTRAMÃO

A campanha japonesa pelo salto alto chama também a atenção porque ocorre em um momento em que as mulheres no Ocidente estão se rebelando contra os padrões de como elas deveriam se vestir.

No Reino Unido, em maio, mais de 100 mil pessoas assinaram uma petição contra uma lei que permite que o empregador obrigue as mulheres a usar salto no ambiente de trabalho.

A petição teve início depois que uma recepcionista da empresa PwC foi suspensa do trabalho após se recusar a usar salto alto.

Também em maio a atriz Julia Roberts roubou a cena no Festival de Cinema de Cannes ao aparecer descalça no tapete vermelho.

A decisão foi um protesto depois de organizadores do evento terem, no ano anterior, barrado um grupo de mulheres da apresentação do filme "Carol" por estarem com saltos considerados não suficientemente altos.


Endereço da página:

Links no texto: