Folha de S. Paulo


Menos ostentação, Lisboa quer ser Miami e vender imóvel a brasileiros

Joana Cunha/Folhapress
02.junho 2016 Ana Araujo, coordenadora da imobiliaria brasileira Cunha Bueno em Portugal Foto:: Joana Cunha /Folhapress
Ana Araujo, coordenadora da imobiliária brasileira Cunha Bueno, que abriu unidade em Portugal

Lisboa apelou à sua história para rivalizar com a ostentação de Miami e atrair brasileiros interessados na compra de imóveis.

A presença dos brasileiros começou tímida a partir de 2012, quando o governo lusitano passou a oferecer visto de residência a estrangeiros que investissem no país para ajudar a tirá-lo da crise.

Mas foi nos últimos meses que o centro histórico lisboeta teve ajuda da legislação e de missões de imobiliárias portuguesas a São Paulo e Rio para promover imóveis vagos em seus becos e ladeiras.

Em setembro de 2015, o governo português facilitou mais a concessão do Visto Gold, a autorização de residência para investimento. Pelas novas regras, quem investir € 350 mil (R$ 1,3 milhão) na aquisição de imóvel de 30 anos ou localizado em áreas históricas ganha direito ao visto.

Nos critérios anteriores, era necessário pagar € 500 mil na compra de um imóvel.

Segundo a Apemip (associação imobiliária portuguesa), a compra de imóveis por brasileiros em Portugal subiu de 394 no primeiro trimestre de 2015 para 560 em igual período deste ano.

Para Pedro D'Orey, sócio da empresa portuguesa de decoração QuartoSala, Miami é "uma compra mais previsível, no modelo de luxo e ostentação". Lisboa tem "estilo de vida mais sóbrio, menos espalhafatoso".

D'Orey diz que muitos clientes já trazem o decorador do Brasil. "Por isso tenho viajado para fazer contatos."

Sua clientela brasileira, que há quatro anos era "residual", hoje representa 35%.

Patrícia Barão, diretora da JLL, uma das principais imobiliárias do país, considera que a crise política do Brasil contribui para o fluxo atual.

A imobiliária paulistana Cunha Bueno abriu unidade em Lisboa. "Já compramos 11 prédios no centro histórico e reformamos. Sete deles foram vendidos para brasileiros", diz o sócio Ronaldo Bueno Filho.

Ana Araújo, coordenadora da Cunha Bueno em Portugal, estima uma alta de 15% no volume geral de investimentos brasileiros.

"O custo de vida aqui é barato, o brasileiro se identifica com suas origens e não há a barreira do idioma. E tudo isso coincide com esse momento atual da crise brasileira, que gera outro polo de forças, dos brasileiros procurando oportunidades de viver no exterior", diz Araújo.

O perfil de quem procura é de elite: empresários em seus 40 anos, cansados da turbulenta economia brasileira, empreendedores encorajados a recomeçar, pais de filhos que estudam na Europa.

O interesse nos imóveis da área histórica e turística da cidade cresce com a possibilidade de alugá-los para temporada quando estão desocupados, segundo Bueno Filho.

Os apartamentos de dois quartos custam de € 300 mil a € 500 mil. Com vista para o Tejo, podem valer € 2 milhões.

Há casos de milionários que buscam casas de veraneio em Cascais e Estoril para usar como base, com fácil acesso a Paris, Roma e Londres, destinos em que as mansões equivalentes têm preços muito superiores.


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