Folha de S. Paulo


Presidente do BC diz que governo cria condições para cortar juros e que câmbio é flutuante

Alan Marques/Folhapress
Presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, participa de sabatina no Senado
Presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, participa de sabatina no Senado

Em sua primeira entrevista após a assumir a presidência do Banco Central, o economista Ilan Goldfajn afirmou nesta terça-feira (28) que o governo está criando as condições para que seja possível reduzir a taxa básica de juros.

Ilan afirmou que as mudanças propostas pelo governo na economia, o que inclui medidas fiscais, podem contribuir para uma queda mais rápida da inflação.

"Estamos criando condições para a redução da taxa de juros. Todos nós esperamos que as condições se apresentem para a flexibilização das condições monetárias", afirmou Ilan no início da apresentação do Relatório Trimestral de Inflação de junho.

"Tem um consenso de que tem de ter as condições necessárias e que temos de fazer de forma responsável."

O presidente do BC reafirmou que o câmbio é flutuante e que autoridade monetária poderá utilizar todas as ferramentas cambiais de que dispõe, sempre com parcimônia. " O BC aprecia o regime de câmbio flutuante dentro do tripé macroeconômico", disse.

Segundo ele, o BC "poderá reduzir sua exposição cambial em determinado instrumento, em ritmo compatível com o normal funcionamento do mercado, quando e se estiverem presentes as adequadas condições".

Ele afirmou também que o BC "vai tentar encontrar uma janela de oportunidade para continuar reduzido esse estoque de swap quando e se for possível". O swap cambial equivale à venda futura de dólares pela autoridade monetária.

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INFLAÇÃO

Sobre o compromisso do BC com a meta de inflação, Ilan afirmou que a instituição tem condições de colocar o IPCA em 4,5% no final de 2017 e que não há necessidade de se ajustar essa meta.

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"Para deixar bem claro: a meta de 4,5% em 2017 é o nosso objetivo", afirmou. "Estamos com expectativa em torno da meta para 2017. Alguns analistas acreditam que pode ser um pouco acima disso. Mesmo nesse caso, a magnitude do desvio não justifica a necessidade de se adotar meta ajustada."

No relatório divulgado nesta terça-feira, o BC projeta que, mantidos a taxa de juros nos atuais em 14,25% ao ano e o dólar a R$ 3,45, a inflação fica em 6,9% neste ano e em 4,7% no final do próximo.

Se a instituição, por outro lado, optar por cortar os juros neste ano, como espera parte do mercado financeiro, a inflação ficaria em 7% em 2016 e 5,5% no final de 2017, segundo as projeções do BC.

Ao comentar a diferença entre os 5,5% e a meta, Ilan disse acreditar que podem ser criadas as condições para a queda dessa projeção no futuro.

Inflação - Variação do IPCA, em %

"Estamos no início de ajustes na economia que, se encaminhados e aprovados, têm todo potencial de continuar reduzindo as incertezas na economia, com queda do risco Brasil e melhora na confiança", afirmou.

"Na medida em que a incerteza caia, o risco-país diminua e a confiança volte, tenho convicção de que as projeções do BC tendem a cair. Nesse caso, o processo de desinflação em direção ao centro da meta ocorre mais rápido e com menos custo."

Sobre o cenário externo, o presidente do BC afirmou que a iminente saída do Reino Unido do bloco político e econômico da União Europeia deve reduzir de alguma forma o crescimento global, o que pode influenciar o crescimento também do Brasil.

"Acredito que os impactos de curto prazo [do Brexit] estão sendo contidos. Temos de observar os impactos de médio e longo prazo. Ainda não estão totalmente mapeadas as consequências para o futuro."

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