Folha de S. Paulo


Citi e Senac são as melhores empresas para deficientes trabalharem

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Centro Universitário Senac Santo Amaro
Centro Universitário Senac Santo Amaro

Consideradas as melhores empresas para pessoas com deficiência trabalharem no Estado de São Paulo, Senac e Citi (antigo Citibank) incentivam pessoas com deficiência a se candidatar em todas as vagas disponíveis, não só as exclusivas para esse público.

As duas companhias dividiram o primeiro lugar em prêmio promovido pela Secretaria de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência em 2015. Elas concorreram com outras 56 empresas.

Andreza Matsumoto, coordenadora do Programa de Inclusão do Senac São Paulo, conta que a iniciativa da empresa existe desde 2002.

Entre seus pilares, estão a descentralização (todas as áreas devem participar do programa de inclusão, não só o RH) e a falta de limitações para os cargos que podem ser ocupados por quem tem deficiência, diz Matsumoto.

Após uma contratação de pessoa com limitações físicas, é feita uma análise das atividades que ela realizará para a eliminação de eventuais barreiras.

A empresa possui cerca de 8.800 funcionários, dentre eles 445 estão inseridos nas cotas. Desses, 88 são professores.

Um deles é Paulo de Tarso Barreto, 55, que ensina de desenho no curso de design. Tetraplégico desde os 21 anos (quando sofreu acidente jogando rugbi), ele conserva alguns movimentos do braço direito e dá aulas na faculdade desde 2002.

Ele diz que prefere uma abordagem direta em relação ao tema da deficiência quando se apresenta a uma turma nova de alunos:

"Jogo o tijolo logo. Digo a eles: 'vocês podem me chamar de PT, não sou petista, sou cadeirante e tenho movimentos muito limitados, não mexo a mão.'"

Hoje, um de seus principais instrumentos de trabalho é um tablet. Usando uma caneta própria do equipamento afixada a mão, ele consegue escrever e desenhar.

Um dos muitos objetivos de Barreto é obter certificado de livre-docência na Universidade de São Paulo, da qual já obteve o título de doutor, conta.

"Acho que a existência da lei de cotas é importante. Mas não adianta existir ela se não houver uma busca por capacitação da pessoa", diz.

Adriano Bandini, Especialista em Diversidade do Citi, diz acreditar que o maior erro do mercado quando lida com a inclusão é delimitar as posições que os profissionais com deficiência devem ocupar.

"Não deve haver uma cadeira para a pessoa com deficiência, deve haver uma carreira. Se eu quero ser o diretor da área jurídica, a deficiência não é um problema, só tenho de desenvolver as habilidades necessárias, como qualquer outro profissional."

Segundo Julia Fernandes, vice-presidente de Recursos Humanos do banco no Brasil, profissionais com e sem deficiência têm acesso aos mesmos programas de coaching e mentoria e são avaliados da mesma forma que os demais. Também tem metas pessoais a serem atingidas e são avaliados da mesma forma que seus colegas no cumprimento delas.

Thiago Bonini, 35, analista sênior do Citi, entrou no banco em 2007 por uma vaga que não era reservada para pessoa com deficiência. Desde então, já mudou de área e foi promovido dentro da empresa.

Ele, que ficou paraplégico há 14 anos em um acidente de moto, conta que retornou ao mercado de trabalho dois anos após adquirir a deficiência, voltando a trabalhar em seu emprego anterior em outro banco.

Na época, quando foi fazer uma perícia no INSS, foi oferecido a ele a possibilidade de se aposentar por invalidez. Proposta que foi prontamente recusada, conta.

"Não estava preparado para ficar em casa. Sabia que poderia voltar a exercer meu trabalho da mesma forma que antes."

Além de voltar a trabalhar, Bonini completou a faculdade de administração, que havia trancado, e fez mais uma graduação, em economia.

Hoje ele lidera uma equipe de 15 pessoas na área chamada internamente de "Conheça seu Cliente". Na equipe, estão outras duas pessoas com deficiência.

Segundo ele, a dificuldade motora não atrapalha em nada seu trabalho:

"Não há limitação nenhuma para minha vida como um todo. Talvez a única diferença que faria [se não tivesse a deficiência] é que gastaria menos tempo no deslocamento, que faço de carro. Isso porque é quase
impossível eu pegar metrô e trem no caminho para o trabalho e chegar em tempo."

Com 5 mil funcionários, o Citi tem 268 profissionais com deficiência.

Portas abertas
Consultoria Talento Incluir dá dicas para empresas e candidatos

  • PARA EMPRESAS

RECRUTAMENTO
Sites que divulgam vagas são úteis, mas estão longe de ser a única opção. Anuncie que procura profissionais em lojas especializadas em produtos para pessoas com deficiência, sites e revistas dedicados a esse público. Também é possível buscar consultorias especializadas em recrutamento e parcerias com instituições que oferecem reabilitação e cursos profissionalizantes

DESCENTRALIZAÇÃO
A inclusão não deve ser responsabilidade apenas da área de recursos humanos. Todos os setores da companhia precisam estar envolvidos no projeto, pois a ajuda das demais áreas, incluindo setores como tecnologia e comunicação, provavelmente será solicitada em algum momento

OPORTUNIDADES
Não restrinja as possibilidades de contratação às vagas que exigem menos qualificação. O melhor, para garantir um bom desempenho dos profissionais selecionados, é implantar uma cultura que dê oportunidades em todas as posições para atrair quem é qualificado e produtivo

NATURALIDADE
Coloque o tema da inclusão e das possibilidades das pessoas com deficiência em discussão de forma sutil, em momentos que não são necessariamente dedicados ao assunto da deficiência. Vale, por exemplo, contratar um DJ que não tem os braços para animar uma festa de fim de ano

APOIO
Após a contratação, profissionais com deficiência e seus gestores devem ser acompanhados. Uma boa prática é realizar pesquisas mensais com ambos, em que se possa avaliar questões como produtividade do profissional e ambiente da empresa

CONTINUIDADE
As ações de inclusão não podem ficar concentradas em uma pessoa só. É preciso que tudo o que é feito e seus resultados sejam documentados para que, caso haja uma mudança na equipe, não se perca o que foi conquistado

  • PARA CANDIDATOS

PROCURA
A internet, em geral, é o caminho mais fácil para entrar no mercado de trabalho. É indicado usar sites comuns, como Vagas, Catho e Infojobs, e também especializados, como o Deficiente Online ou o Selur Social

ESCOLHA DA EMPRESA
Busque descobrir quais empresas demonstram mais interesse pelo tema da inclusão, visitando seus sites e observando quais possuem comunicação específica para recrutar o público com deficiência nele e em veículos especializados

CURRÍCULO
É melhor indicar que possui uma deficiência do que pegar o entrevistador despreparado quando você chegar na empresa.

EXPLIQUE TUDO
O recrutador não tem a obrigação de saber todas as características e necessidades de sua deficiência. Explique pacientemente como trabalha e de quais recursos irá precisar para atuar na companhia

PERGUNTE
Ao ser entrevistado, é dever do candidato perguntar o que julga importante para poder decidir se quer trabalhar na empresa ou não. Vale a pena questionar sobre os programas de inclusão que a companhia tem. Se houver algum, o entrevistador terá prazer em contar

MOTIVAÇÃO
Pessoas com deficiência não devem se acomodar no emprego pela existência da lei de cotas. Elas devem ter claro que ela abre as portas, mas não garante crescimento


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