Folha de S. Paulo


Crítica

Jornalista analisa trajetória dos ultrarricos brasileiros

Ricardo Moraes - 26.abr.2012/Reuters
Eike Batista em cerimônia de início da produção de poço no RJ, em 2012
Eike Batista em cerimônia de início da produção de poço no RJ, em 2012

Quando a agência Bloomberg se preparava para lançar seu índice de bilionários, em 2012, Eike Batista estava particularmente interessado em quão perto do topo apareceria na lista.

Na época, a equipe do empresário enviou para Alex Cuadros, então encarregado da cobertura dos ultrarricos no país, uma lista detalhada de seus ativos. Alguns acompanhados por fotos.

O décimo lugar entre os bilionários do mundo, no entanto, não agradou a Eike, que quis falar pessoalmente com Cuadros por telefone para discutir detalhes de como a Bloomberg havia –erroneamente, segundo ele– estimado o valor de sua riqueza.

"Este ano é uma grande virada para o grupo. Estamos estimando perto de US$ 1 bilhão em geração de caixa, isso dobrará no próximo ano, e então triplicará em 2014, e então estaremos correndo como –qual é o nome daquele cara jamaicano? Bolt, Usain Bolt."

Essa passagem de "Brazillionaires, the Godfathers of Modern Brazil", lançado há duas semanas na Inglaterra, ilustra o que o livro de Cuadros tem de melhor, mas também sua principal fraqueza.

Os bastidores da cobertura dos ultrarricos no Brasil, que o jornalista americano abraçou em 2010 a pedido da Bloomberg, trazem alguns detalhes interessantes.

Cuadros faz boas análises sobre o que as trajetórias dos bilionários representam para o Brasil. "A arma secreta de Eike foi oferecer o melhor do boom brasileiro, rápido", diz num trecho.

A narrativa, no entanto, é vítima do que poderia ser um de seus pontos altos: a atualidade dos fatos, já escancarados pela mídia local e por outros livros que, assim como "Brazillionaires", versam sobre Eike, protestos sociais ou a desgraça recente do país.

Isso atrapalha porque tira do livro a emoção que histórias desse tipo costumam trazer. Mas não chega a matar sua atratividade.

Ainda que as histórias dos demais bilionários –Jorge Paulo Lemann, Edir Macedo, a família Marinho (dona do Grupo Globo) e grandes empreiteiros– também sejam conhecidas, juntá-las numa narrativa força a reflexão sobre a gigante desigualdade que ainda assola o Brasil.

GUERRA DE CANUDOS

Ao explorar esse ponto ao longo de todo o livro, Cuadros contribui para a análise da ascensão social de alguns personagens. Ele compara Macedo, por exemplo, com Antônio Conselheiro, líder da Guerra de Canudos.

"Entre o Conselheiro e Edir Macedo há muito mais diferenças do que semelhanças. Mas ambos romperam a narrativa oficial do Brasil. Eles ofereceram [às pessoas] um lugar de pertencimento em um país no qual a elite virou seu nariz para os pobres."

Em outras passagens, Cuadros soa menos convincente ao recorrer a clichês da sociologia brasileira (como o "homem cordial") para explicar o perfil de alguns retratados.

Por enquanto, o livro, que sai em julho nos EUA pela Random House, só está disponível em inglês. A editora Zahar, que tinha comprado os direitos para a publicação no Brasil, desistiu da obra.

O episódio causou burburinho no mercado editorial, no qual circulam rumores de que o livro teria desagradado a assessores de Lemann.

Embora ressalte méritos do empresário (um dos sócios da Anheuser-Busch InBev), como a introdução de uma cultura de meritocracia no Brasil, Cuadros também faz críticas a seu modelo de negócios: "É como destruição criativa, sem a parte criativa".

"Não estou muito otimista em relação a uma possível publicação no Brasil. Acho que existe certo medo de publicar um livro muito crítico", disse o jornalista à Folha.

Em nota, a Zahar informou apenas que "o original entregue ficou muito diferente da proposta adquirida".

Mas não quis fornecer detalhes, afirmando que "essa questão diz respeito apenas à editora e ao autor".

Brazillionaires – the godfathers of Modern Brazil
AUTOR Alex Cuadros
EDITORA Random House
QUANTO R$ 27,95 na amazon.com.br (368 págs.)
AVALIAÇÃO Bom


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