Folha de S. Paulo


Marca de jaqueta fofa mira Brasil para alavancar crescimento

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Modelo da coleção da Moncler em parceria com a dupla de artistas japoneses Friendswithyou
Modelo da coleção da Moncler em parceria com a dupla de artistas japoneses Friendswithyou

O italiano Remo Ruffini, 54, poderia ter entrado numa fria quando comprou a Moncler há 13 anos. Jogada no limbo da moda, a pequena grife francesa especializada em jaquetas acolchoadas passou de patinho feio das etiquetas esportivas para uma das mais quentes da moda mundial.

A grife cresceu 48% nas Américas, em 2015, em relação ao ano anterior, e 15% no bloco da Europa, do Oriente Médio e da África, apesar das incertezas econômicas e da retração na moda de luxo.

Quando abriu o capital na bolsa, em 2013, Ruffini injetou 4 bilhões de euros. Desde então não parou de lançar versões dos produtos, desfilar a marca em Paris, Nova York e e Milão e abrir lojas, inclusive onde não há tanta neve, como Miami e Havaí, nos EUA.

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O empresário italiano Remo Ruffini, 54. Dono da grife italiana Moncler, ele consegue vender casacos
O empresário italiano Remo Ruffini, 54, dono da grife italiana Moncler

No Brasil, em 2014, a grife se instalou no shopping JK, em São Paulo. Suas "doudounes", tipo de casaco fofo e matelassado que virou tendência do inverno, não saem por menos de R$ 3.000 e aguentam termômetros na faixa dos 6º C. As mais quentes, para "abaixo de zero", custam pelo menos R$ 1.000 a mais, podendo chegar à casa dos dois dígitos.

A fórmula para vender, segundo diz o executivo, em entrevista à Folha, não é diferente da que norteia outras grifes de luxo: qualidade de matéria-prima e diversidade de produtos.



A Moncler é uma grife que tem como base a roupa de frio, usada em estações de esqui. Como passou a vender em mercados de clima quente?
Remo Ruffini - O que atrai para a nossa marca é a qualidade e a combinação de estilo e performance, independentemente da sazonalidade. Quando comprei a Moncler, meu objetivo era ter uma marca global com uma presença equilibrada pelo mundo e que fosse utilizada por clientes diferentes ou pelos mesmos de antes, em diferentes ocasiões. Foi importante comunicar a marca como a que tinha o casaco para todos os momentos. A grife tornou-se urbana, mas não renunciou ao espírito esportivo.

Isso funciona no Brasil?
Nos últimos anos houve uma grande demanda de latino-americanos em nossas lojas, principalmente na Europa e nos EUA. Quando abrimos a loja de São Paulo queríamos oferecer aos brasileiros a possibilidade de conhecerem nossa história e se aproximarem da marca. Moda e luxo florescem no Brasil, e, embora os clientes estejam mais complexos e exigentes, achamos que oferecer uma vitrine é importante para que conheçam nosso produto de forma mais direta.

Mas há uma crise econômica no país. Ele ainda é interessante para as marcas de luxo?
Sim, absolutamente. Isso tem a ver com o fato de o Brasil poder contar com uma grade indústria de moda própria. Há muitas grifes brasileiras que fazem sucesso com clientes domésticos e isso ajuda a criar um clima 'saudável' para a demanda de itens de luxo, que me parece não estar associada simplesmente aos fashionistas, mas, sim, às pessoas que estão sendo educadas a ser altamente sofisticadas, bem informadas e que não podem só apreciar algo por ser caro, mas pela qualidade e design.

Qual o motivo de a Moncler participar de três semanas de moda diferentes?
Sempre digo que 'temos de sobreviver fashion' e ser coerentes. O futuro de uma empresa, na minha opinião, está ligado ao conhecimento e à percepção da marca. Pode acontecer de você ter um aumento de vendas, mas é mais importante ter um aumento de conhecimento. Paulatinamente, as pessoas vão conhecendo a grife como a que tem a 'puffy jacket' (jaqueta inchada) até chegaram ao ponto de reconhecerem que o valor real é a escolha pela qualidade. Isso é um tipo de investimento que assegura as bases mais fortes para um crescimento palpável.


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