Folha de S. Paulo


Frio recorde pega varejistas de surpresa

Após três anos de invernos amenos, com temperaturas médias acima de 15°C, os recentes recordes de frio em 2016 estão colocando sob estresse os estoques antes acumulados de aquecedores de ambiente entre pequenos e grandes do varejo.

"A verdade é que não esperávamos que o inverno chegasse tão frio e tão cedo. Claro que o clima é levado em conta quando compramos produtos com sazonalidade, mas este ano está sendo atípico", afirma Jean Lima, gerente regional das Lojas Mel.

Nos 13 pontos comerciais da rede, em São Paulo, Mauá e no ABC paulista, foi registrado o dobro de vendas de produtos elétricos da linha de inverno em relação ao ano passado. A expectativa é que o faturamento seja 50% maior em junho e julho deste ano por conta disso.

"Agora estamos na terceira remessa de aquecedores, que já está esgotando também. Foram 1.500 peças em menos de dez dias. Os portáteis da Ventisol, por exemplo, esgotam em poucas horas após chegarem nas lojas."

Ele trabalha com a estimativa de que 4.000 aquecedores da marca serão vendidos nas próximas duas semanas.

Karime Xavier/Folhapress
SÃO PAULO / SÃO PAULO / BRASIL -23 /06/16 - :00h - Jean Lima, diretor regional das Lojas Mel.Recordes de baixas temperaturas colocam estoques do varejo sob pressão. Produtos como aquecedores e torneiras elétricas não estão chegando em quantidade suficiente para atender a demanda em 2016, após anos de invernos amenos em São Paulo. Jean Lima, diretor regional das Lojas Mel, em uma das unidades da rede. A rede é uma das que ficou sem estoque de aquecedores. ( Foto: Karime Xavier / Folhapress). ***EXCLUSIVO***ESPECIAIS
Jean Lima, gerente regional das Lojas Mel, em uma das unidades em SP

Contudo, é provável que se torne ainda mais difícil achar o produto, se as baixas temperaturas persistirem até o começo de agosto, aponta Fernanda Cândido, diretora de marketing da Ventisol.

"Todo o nosso estoque de 150 mil peças foi vendido rapidamente, ao contrário do que aconteceu em 2014 e 2015, anos de pouca venda para a indústria. Por conta disso, inclusive, a empresa não apostou em importação de aquecedores para 2016, e o produto esgotou", afirma.

Segundo Cândido, a Ventisol chegou a cancelar os serviços de informações meteorológicas por conta da falta de acuidade das previsões que compunham a estratégia de compras da empresa.

Para Roberto Kanter, professor de marketing da Fundação Getúlio Vargas, a regularidade de temperaturas mais altas para o inverno nos últimos anos e a recessão econômica contribuíram para que as empresas adotassem posturas mais conservadoras em 2016, não se preparando para fazer do frio uma oportunidade melhor.

"Muito do que está acontecendo teve influência decisiva do El Niño, que torna os invernos mais quentes na América Latina. Acreditava-se que seu efeito fosse durar até este ano, mas o que vemos foi um efeito contrário, do La Niña, que facilita o acesso das massas polares", diz.

Com produção mais flexível, a Lorenzetti, fabricante de chuveiros e torneiras elétricas, está aproveitando a alta na demanda e aumentou a produção dos itens em 10%.

"A gente procurou se informar com meteorologistas e, esperando um inverno mais frio, carregou mais a produção nos primeiros quatro meses do ano. Mas, para atender a atual demanda que está acima da média esperada, cancelamos as férias de parte dos funcionários em junho e julho", afirma Eduardo Coli, CEO da Lorenzetti.

GIGANTES AQUECIDAS

O frio intenso não afetou apenas as pequenas e médias do setor varejista. Os efeitos da alta demanda por aquecedores também são sentidos entre as grandes do setor, que correm para repôr estoques das lojas físicas e on-line.

Na primeira quinzena de junho, as Lojas Americanas registraram aumento de 924% nas vendas de aquecedores portáteis no Estado de São Paulo em comparação com o mesmo período de 2015.

A ViaVarejo, que agrega as marcas Ponto Frio e Casas Bahia, aponta que na mesma época o volume de vendas gerais de produtos sazonais, como desumidificadores, secadores de cabelo e secadoras de roupas, cresceu mais de 200% no Sul e Sudeste.

Mas Rubens Domene, diretor comercial da ViaVarejo, não acredita que as vendas impulsionadas pelo inverno rigoroso venham a compensar as perdas do comércio varejista, que recuou 7% no país no primeiro trimestre em comparação com 2015, segundo o IBGE.

"A venda de ar-condicionado é muito mais representativa em abrangência nacional. É preciso lembrar que o inverno não está sendo frio nas regiões Norte e Nordeste, onde tradicionalmente esses produtos não se saem bem."


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