Folha de S. Paulo


Passaredo demite, reduz malha aérea e devolve aviões

Márcia Ribeiro - 29.jan.2013/Folhapress
RIBEIRAO PRETO, SP, BRASIL, 29-01-2013, 16h00: Avião da Passaredo no aeroporto Leite Lopes. Aeroporto Leite Lopes, de Ribeirão Preto, perde 3.700 voos comerciais em um ano. (Foto: Márcia Ribeiro/ Folhapress, REGIONAIS) ***EXCLUSIVO***
Avião da Passaredo no aeroporto de Ribeirão Preto

Sob a alegação de enfrentar um mercado retraído em função da crise econômica no país, a Passaredo Linhas Aéreas está demitindo até 300 funcionários, quer devolver seis aeronaves e eliminou rotas de sua malha aérea.

Em recuperação judicial, a empresa vai encolher o quadro de empregados em um terço, segundo o Sindicato dos Aeroviários e funcionários, e deixará de voar para Dourados (MS) e Uberlândia (MG).

Hoje com 14 aeronaves, a aérea quer encolher e ficar com oito. Para isso, informou negociar a devolução de seis delas. Todas são turboélices da fabricante franco-italiana ATR.

Atuais e ex-funcionários ouvidos pela Folha afirmaram que a empresa tem descumprido a legislação trabalhista e que, em alguns casos, não recolhe FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) há mais de um ano, ainda não pagou o dissídio trabalhista deste ano aos seus cerca de 900 empregados e tem adotado fracionamento de salários. Até mesmo o fornecimento de uniforme de trabalho não era regular, segundo funcionários demitidos da empresa nesta semana.

Os problemas envolvendo a Passaredo se avolumam nos últimos anos. Em 2012, apresentou um pedido de recuperação judicial, com dívidas superiores a R$ 100 milhões, geradas, conforme a empresa, devido ao alto preço do combustível e à "concorrência desleal" praticada em Ribeirão Preto (a 313 km de São Paulo), que é sua base.

O pedido foi aceito em maio do ano seguinte, mas foram necessárias três assembleias para que fosse aprovado pelos credores. A primeira foi cancelada por falta de quórum e a segunda foi suspensa a pedido de um credor.

Já em 2014, a empresa deixou de levar as bagagens dos passageiros em ao menos dois voos entre Guarulhos e Vitória da Conquista (BA), para poder voar com o tanque mais cheio.

A aérea deixou as bagagens para trás por não abastecer seus aviões na cidade baiana. Um piloto e um ex-piloto relataram que a empresa devia à fornecedora local -a Passaredo apenas disse que o valor cobrado no aeroporto era três vezes superior ao de outros locais.

No mesmo ano, a Justiça do Trabalho de Ribeirão Preto condenou a empresa a pagar integralmente os salários dos funcionários até o quinto útil dia do mês, o que não ocorria.

Nesse período, o Sindicato Nacional dos Aeronautas também fez reuniões com a companhia aérea após receber denúncias de descumprimento da legislação trabalhista e de segurança de voo.

OUTRO LADO

A Passaredo informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que as medidas de contenção estão sendo tomadas em função do cenário econômico do país e da retração de mercado que o setor da aviação comercial está sentindo.

Segundo a empresa, a readequação da malha aérea está sendo feita há seis meses, com redução de oferta de voos e, por isso, "está redimensionando seu quadro atual de colaboradores, reduzindo o número de funcionários através da concessão de licenças remuneradas e de rescisões de contratos de trabalho".

A companhia informou que preservará todos os direitos dos trabalhadores envolvidos e que não haverá impacto aos passageiros ou às operações da empresa.

Ainda de acordo com a Passaredo, a base da tripulação passará a ser exclusivamente em Ribeirão Preto. A companhia aérea tem como alguns dos destinos São Paulo (Guarulhos), Brasília, Goiânia, Rio de Janeiro, Salvador e Belo Horizonte.


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