Folha de S. Paulo


'Brexit' surpreende, e Bovespa perde mais de 3%; dólar sobe a R$ 3,38

Anthony Wallace/AFP
Saída do Reino Unido da UE derruba mercados globais nesta sexta-feira
Saída do Reino Unido da UE derruba mercados globais nesta sexta-feira

A vitória do "Brexit", saída do Reino Unido da União Europeia, no plebiscito desta quinta-feira (23) pegou os investidores de surpresa, já que as apostas eram de permanência no bloco. Com isso, os mercados globais e os preços do petróleo desabam, e o dólar ganha força frente à maioria das moedas.

No mercado doméstico, o Ibovespa recua mais de 3%, e o dólar avança para a casa dos R$ 3,38, após ter atingido a máxima de R$ 3,45 mais cedo.

Segundo analistas, ainda não se sabe as reais consequências do "Brexit", mas a avaliação é que o maior impacto negativo ficará sobre a Europa. A leitura também é de que uma alta dos juros americanos, em meio à turbulência mundial, ficará mais distante, enquanto os bancos centrais mundiais se apressam em garantir liquidez aos mercados.

"Com o 'Brexit', teme-se que o ritmo de atividade e a inflação percam forças não só no Reino Unido, mas na Europa como um todo, e que partidos extremistas possam ganhar mais espaço na região", escreve a equipe de analise da Guide Investimentos.

"Uma coisa parece clara neste momento: o Fed [Federal Reserve, o banco central dos EUA] tende a postergar a elevação de juros, que até aqui pensávamos que pudesse ocorrer em setembro, e os BCs de Europa e Japão tendem a se tornar ainda mais expansionistas", acrescenta a Guide.

"O processo de negociação da saída dos britânicos da UE deve ser longo (dois anos), gerando maiores incertezas", destacam analistas da Lerosa Investimentos. "O cenário externo deve prejudicar os emergentes por algum tempo; o refresco fica por conta do diferencial de juros, atraindo fluxo para nossa moeda assim que a poeira baixar um pouco lá fora", acrescentam.

CÂMBIO E JUROS

A moeda americana subia há pouco 0,74%, a R$ 3,3800, enquanto o dólar comercial ganhava 1,10%, a R$ 3,3820.

Para Cleber Alessie, operador de câmbio da corretora H.Commcor, a desvalorização do real ante o dólar não é mais forte porque o foco do problema está concentrado na Europa. "E, na cena interna, vemos otimismo dos investidores com as conquistas que o governo Temer tem obtido no Congresso", diz.

Ítalo Santos, especialista em câmbio da corretora Icap, destaca que a alta taxa de juros no Brasil continua sendo atrativa. "E, como estamos no fim do semestre, há um fluxo de entrada de dólares, por isso o real não cai ainda mais."

Outro ponto, destaca Santos, é que o Banco Central continua sem fazer novas operações de swap cambial reverso, equivalente à compra futura de dólares pela autoridade monetária. "Isso só deve acontecer quando o novo diretor de Política Monetária [Reinaldo Le Grazie] assumir, após 5 de de julho", comenta.

Em nota, o Banco Central afirmou que "a economia brasileira tem fundamentos robustos para enfrentar movimentos decorrentes desse processo [o "Brexit"], especialmente relevante montante de reservas internacionais, o regime de câmbio flutuante e um sistema financeiro sólido, com baixa exposição internacional".

No mercado de juros futuros, o contrato de DI para janeiro de 2017 caía de 13,740% para 13,695%, mas o contrato de DI para janeiro de 2021 subia de 12,410% para 12,460%.

O CDS (credit default swap) brasileiro, espécie de seguro contra calote e indicador de percepção de risco, avançava 4,56%, aos 335,506 pontos.

BOLSA

Ibovespa perdia há pouco 3,33%, aos 49.843,32 pontos, acompanhando o movimento global de aversão ao risco.

Os papéis da Petrobras caíam 6,10%, a R$ 9,08 (PN), e 6,39%, a R$ 11,28 (ON). As ações da Vale recuavam 5,59%, a R$ 12,65% (PNA), e 6,26%, a R$ 15,55 (ON).

No setor financeiro, Itaú Unibanco PN perdia 3,46%; Bradesco PN, -3,21%; Bradesco PN, -2,98%; Santander unit, -5,66%; e BM&FBovespa ON, -2,78%.


Endereço da página:

Links no texto: