Folha de S. Paulo


Oferta de rival precipitou proposta, diz presidente da Ser Educacional

Leo Caldas - 7.jan.2009/Valor
07.01.2009 EDITORIA: Empresas PERSONAGEM : Janguie Diniz - Presidente da Faculdade Mauricio de Nassau PAUTA: Fundo Cartesian compra parte da Mauricio de Nassau REPORTER: Carolina Mandl LOCAL: Recife, PE FOTO: Leo Caldas / Valor ***FOTO DE USO EXCLUSIVO FOLHAPRESS***
Janguie Diniz, fundador e maior acionista da Ser Educacional

A manifestação de interesse da rival Kroton pela rede de educação fluminense Estácio precipitou a proposta da Ser Educacional, diz Janguiê Diniz, fundador e maior acionista da companhia.

Para ele, o futuro do ensino superior privado no país é a consolidação dos grandes grupos, "embora não seja o ideal". E a Ser fará parte do movimento, afirma Diniz.

"O melhor para a educação superior brasileira é a existência de pequenas, médias e grandes instituições convivendo pacificamente."

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Folha — Temos ouvido de investidores que deve começar uma nova temporada de compras no setor. A Ser está nisso?

Janguiê Diniz — Acredito que a tendência seja a consolidação de cerca de cinco grandes grupos, e a Ser é um dos atores desse movimento, embora isso não seja o ideal. O melhor é pequenas, médias e grandes instituições convivendo pacificamente.

O mercado está chegando a uma concentração exagerada?

Até o momento não. Se a Estácio for comprada pela maior companhia do Brasil, a concentração ocorrerá, porque a empresa passará a deter mais de 25% do mercado da educação superior brasileira e mais de 50% de educação a distância. Praticamente inexistirá concorrência, e as regras serão ditadas exclusivamente por aquela companhia.

Quando a educação é vista com olhar financeiro, como fazem esses grandes conglomerados, qual é o risco? Como é possível aliar escala a qualidade em educação?

A perda de qualidade acontece quando não há concorrência saudável. A qualidade dos cursos provavelmente não será afetada porque há padrões mínimos de exigência do Ministério da Educação e os cursos são constantemente avaliados pelo Enade [exame aplicado aos concluintes]. Mas qualidade vai além dos padrões mínimos de aprovação. O que pode ser perdido são diferenciais, como programas de iniciação científica, projetos institucionais, de responsabilidade social, eventos, esportes. Porque, se não existir concorrência, não há motivo para investir em diferenciais.

Quais seriam as sinergias entre Ser e Estácio? Dizem que haveria mais sinergias com a Kroton.

A proposta de fusão com a Estácio já vinha sendo gestada há muito tempo, mas aguardávamos para um futuro próximo.Tivemos que acelerar devido à intenção da Kroton de comprar a Estácio. Poderia se pensar que a compra da Estácio pela Kroton geraria muita sinergia. Entretanto, traria para as duas empresas grandes riscos regulatórios porque afrontaria a livre concorrência. Além do mais, inexistirá qualquer crescimento para as duas empresas. Por outro lado, se fundindo com a Ser, a Estácio teria mais oportunidade de crescimento, pois aproveitaria o plano de crescimento orgânico com 50 novas unidades, além de todo o ensino a distância da Ser, em fase de crescimento e inexistiria risco regulatório.

Se fechar o acordo, haverá demissão de professor?

Serão feitos todos os esforços para manter a equipe e o capital intelectual das duas empresas.

Como o sr. avalia o recuo do programa de financiamento estudantil Fies?

Fies, ProUni e Pronatec são programas essenciais. Infelizmente, temos poucas instituições públicas para os estudantes em idade universitária, por isso a rede particular tem 75% das matrículas. Se acabarem com esses programas, além do aumento da população sem qualificação, não haverá chance de atingirmos as metas impostas para o Plano Nacional da Educação, e nós já estamos atrasados nesses índices. Felizmente, o governo Temer anunciou a ampliação das vagas do Fies, o que é extremamente salutar.

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RAIO-X JANGUIÊ DINIZ, 52

FORMAÇÃO
Graduado em direito pela UFPE e letras pela Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP)
Mestre e doutor em direito pela UFPE
Pós-graduações na área de direito

TRAJETÓRIA PROFISSIONAL
Foi juiz do Trabalho, procurador do Ministério Público do Trabalho e professor do curso de direito da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE); além de fundador do Bureau Jurídico


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