Folha de S. Paulo


Chinesas têm de enviar fotos nuas a agiotas como garantia de empréstimos

Kim Kyung-Hoon/Reuters
Chinese 100 yuan banknotes are seen in a counting machine while a clerk counts them at a branch of a commercial bank in Beijing, China, March 30, 2016. REUTERS/Kim Kyung-Hoon/File Photo ORG XMIT: RPA211
Notas de 100 yuans em máquina de contar dinheiro em Beijing, na China

Agiotas chineses estão exigindo fotos nuas como garantias da parte de suas devedoras, com a ameaça de usá-las como forma de chantagem caso elas se atrasem no pagamento de seus empréstimos, o que representa a mais recente escalada na agressividade das táticas de cobrança de dívidas, em uma economia que enfrenta desaceleração.

Trata-se do mais recente tipo de empréstimo de alto risco em um país no qual a democratização das finanças por meio de companhias de crédito individual e um vasto sistema bancário paralelo, com taxas de juros que em alguns casos ultrapassam os 30% anuais, provou ser uma combinação inflamatória e alimentou o crescimento na inadimplência.

Universitárias na província de Guangdong, no sul do país, foram instruídas a enviar fotos que as mostrem nuas, e portando um documento de identidade; os credores ameaçam tornar públicas essas fotos caso elas deixem de pagar seus microempréstimos, de acordo com o "Nandu Daily", um jornal local.

Embora esses empréstimos sejam intermediados no site Jiedaibao, o serviço de empréstimos online de pessoa a pessoa negou envolvimento direto, já que as partes envolvidas fecham negócio por meio de outro canal. "Trata-se de uma transação offline ilegal entre vítimas e emprestadores, iniciada por meio de nossa plataforma", disse um representante do serviço, em resposta ao "Financial Times".

A chantagem com o uso de fotos que mostram nudez se une a uma longa lista de ameaças, entre as quais destruição de propriedades e lesões corporais, feitas por agiotas em esforços para receber empréstimos não pagos.

"Se as pessoas tomam empréstimos em um banco, não existe ameaça à sua segurança pessoal. Mas se o fazem junto a emprestadores privados, especialmente os que cobram juros altos, coisas assim podem acontecer", disse Han Chuanhua, advogado especializado em falências, do escritório Zhongzi Law, em Pequim.

"Se as pessoas não podem pagar, os agiotas muitas vezes enviam alguém à casa do devedor. Em geral, se limitam a fazer ameaças. Mas podem agir, ocasionalmente. Esse tipo de pessoa não opera por meio dos canais legais", ele disse.

Um dos clientes de Han teve suas pernas quebradas por bandidos que trabalhavam para agiotas. Outros tiveram visitas de pessoas aos seus escritórios "para quebrar coisas".

Fundos do sistema bancário paralelo fluem através de círculos de crédito formados por empreendedores ou cidadãos locais, que atraem capital de diversas fontes e emprestam dinheiro a pessoas que não têm acesso ao sistema bancário convencional. Sites de empréstimos pessoa a pessoa permitem que o público mais amplo participe do mercado, tanto fazendo quanto recebendo empréstimos.

Empréstimos que portem juros superiores a quatro vezes ou mais a taxa oficial são considerados agiotagem, na China, e os direitos dos credores não são protegidos pelas leis do país, de acordo com o advogado Wen Daoquan, em um post sobre disputas em torno de empréstimos de altos juros. A agiotagem em si não é ilegal, mas os cobradores não têm direito de usar "meios inapropriados", ele disse.

Os trabalhadores migrantes, com sua instabilidade no emprego e relutância em recorrer à polícia, são especialmente vulneráveis. "Se não puderem pagar os empréstimos, as famílias deles terminam por ser pressionadas", disse um representante de um popular serviço telefônico de assistência judicial a trabalhadores migrantes.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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