Folha de S. Paulo


Especialistas temem efeito de concentração na educação

Marisa Cauduro/Folhapress
SAO PAULO, SP, BRASIL, 26-05-2011: Alunos do curso de Administracao do Grupo Anhanguera de Educacao. Muitos trabalham usando computadores.Este grupo Educacional, tm chamado ateno por seu acelerado crescimento (chegou a 340 mil alunos), seu enorme apetite (s- neste ano comprou sete grupos) e seu foco na tecnologia (o CEO ex-diretor-geral do Google Brasil). O grupo o maior do Brasil, e tem foco nas classes C e D.. ( Foto : Marisa Cauduro/ Folhapress, MERCADO)***EXCLUSIVO FOLHA***
Alunos do curso de administração do Grupo Anhanguera de Educação, em aula em SP

O recente movimento de fusões e aquisições no mercado educacional pode elevar a concentração das instituições de ensino superior no país, com consequências sobre preços e qualidade, segundo consultorias especializadas no setor.

Nos últimos dias, a Kroton, líder do setor, e a Ser Educacional, uma das dez maiores, tornaram públicos seus interesses em se juntarem à fluminense Estácio.

Educação
Iniciativas bem-sucedidas no Brasil
Sala de aula em Sobral

Analistas do setor consideram que a fusão da Estácio com a Kroton enfrentaria restrições do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). A expectativa de que o órgão imponha entraves é menor se o acordo for fechado com a Ser.

Cálculos da CM Consultoria, indicam que, com 2,7 milhões de matrículas, os dez maiores grupos concentram 46% do volume total do setor privado. E o número de alunos da Kroton supera em 25% os do segundo e do terceiro grupos (Estácio e Unip) no ranking da consultoria.

ESTUDANTE CONCENTRADO - Com 2,7 milhões de alunos, os dez maiores grupos privados concentram 46% do setor*

Segundo estudo da consultoria com base em dados do MEC de 2014, a união com a Kroton geraria uma instituição com mais de 1 milhão de matrículas de graduação. No caso da Ser, seria menos expressivo, com aproximadamente 500 mil alunos.

"No cenário de fusão com a Kroton, o grupo Kroton/Estácio deteria 5 de cada 10 alunos, ou seja, fazer frente em volume de alunos a esse gigante significaria fundirem-se todas as demais companhias do ranking das dez maiores", diz Carlos Monteiro, presidente da CM.

Na hipótese de fusão com a Ser, segundo Monteiro, a Kroton continuaria no domínio, mas com uma diferença de apenas 10,5% em relação ao total de alunos do segundo e do terceiro maiores.

ESTUDANTE CONCENTRADO - Quantidade de fusões e aquisições no Brasil

INFLUÊNCIA AUMENTADA

"Se houver um único grupo educacional com mais de 1 milhão de alunos, considerando que o Brasil tem cerca de 8 milhões de alunos públicos e privados, este grupo terá uma influência muito grande nos rumos da educação no Brasil", afirma William Klein, CEO da consultoria Hoper Educação.

"Visto por esse ângulo, é importante que o Cade e o MEC observem bem", diz.

Do ponto de vista da qualidade, os benefícios do negócio também são questionados. Os ganhos de escala podem ser interessantes para os resultados financeiros, mas comprometer o acompanhamento individualizado dos alunos, valioso na educação.

ESTUDANTE CONCENTRADO - Volume dos negócios divulgados, em R$ milhões

Para Klein, da Hoper, também prejudicam a qualidade os movimentos de compra e venda de empresas dentro de prazos muito curtos, porque os projetos de melhoria de ensino carecem de ciclos longos. Um exemplo de venda rápida foi a operação de ensino a distância Uniasselvi.

Como condição do Cade para aprovar a compra da Anhanguera anunciada em 2013, a Kroton vendeu a Uniasselvi, adquirida em 2012.

Uma pesquisa de maio do departamento de estudos econômicos do Cade conclui que, embora os ganhos de escala permitam redução de custos, essa queda só será repassada na forma de diminuição de preços se após a fusão o mercado "mantiver níveis razoáveis de rivalidade e possibilidade de entradas suficientes para estimular a concorrência e distribuição".

O Cade não comenta negócios em andamento.

Para Monteiro, da CM, a concentração acabará com as instituições de menor porte, que são maioria no país, prejudicando ainda mais a competitividade. "Das pouco mais de 2.000 instituições do país, cerca de 1.800 têm menos de 3.000 alunos. É difícil competir com as grandes."

A Kroton diz que em 2014, após a fusão com a Anhanguera, a companhia registrou 98% de conceitos satisfatórios no indicador de desempenho IGC, valor 1% superior ao ano anterior. Ser e Estácio não quiseram comentar.


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