Folha de S. Paulo


Indústria argentina para por falta de gás graças ao frio

Cerca de 475 fábricas na Argentina estão com as atividades parcial ou totalmente suspensas desde quinta (9) por causa de restrição determinada pelo governo no abastecimento de gás natural.

O frio intenso levou os argentinos a ligarem sistemas de calefação e fez a demanda por gás chegar a 150 milhões de metros cúbicos por dia. Como a capacidade de produção é de apenas 104 milhões, o governo de Mauricio Macri optou por privilegiar casas, hospitais e escolas.

A previsão é normalizar o fornecimento a partir de segunda-feira.

Apenas empresas que não podem desligar seus fornos, como as de vidro, estão com o abastecimento mantido.

O país também passou a importar gás de Bolívia, Chile, África, EUA e Ásia.

Do Uruguai, do Paraguai e do Brasil, a Argentina está comprando energia elétrica.

O mau tempo ainda prejudicou, nesta semana, a atracação dos navios que trazem gás do exterior.

A crise energética é antiga e as empresas já estão acostumadas com a falta de gás no inverno há pelo menos dez anos, diz Daniel Artana, economista-chefe da Fiel (Fundação de Investigações Econômicas Latino-Americanas).

MAIS CEDO E MAIS FORTE

O problema, no entanto, é que o inverno veio mais cedo e mais forte em 2016. Maio foi o mais frio dos últimos 60 anos em Buenos Aires e a previsão é que os próximos meses continuem gelados.

"Uma estação assim poderá gerar ainda mais paralisações nas indústrias e agravar a recuperação industrial", diz Nicolás Dujovne, que foi economista-chefe do Banco Galícia e hoje comanda a consultoria que leva seu nome.

O setor registrou uma queda de 2,4% nos quatro primeiros meses deste ano, contra o mesmo período de 2015.

A produção de gás no país diminuiu 30% desde 2001, segundo Dujovne, porque os tetos colocados no preço do produto durante os governos Kirchner, entre 2003 e 2015, desestimularam novos investimentos na área.

Mauricio Macri, no entanto, determinou um reajuste de até 400% nas tarifas de gás para casas e de até 500% para empresas.

"O preço repassado aos produtores está em um bom patamar agora. Se os investimentos forem feitos como se prevê, deveremos voltar a ser autossuficientes em gás em cinco anos", disse Dujovne.

Até 2004, a Argentina exportava gás.


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