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Senado aprova Ilan Goldfajn para presidência do Banco Central

Alan Marques/Folhapress
Brasilia,DF,Brasil 07.06.2016 O indicado para a presidencia do Banco Central, Ilan Goldfajn, participa de sabatina na Comissao de Assuntos Economicos do Senado Foto: Alan Marques/Folhapress cod 0619
O indicado para a presidência do Banco Central, Ilan Goldfajn, em sabatina na CAE do Senado

O Plenário do Senado Federal aprovou nesta terça-feira (7), por 56 votos a favor e 13 votos contrários, a indicação do economista Ilan Goldfajn para assumir a presidência do Banco Central. Houve uma abstenção.

Ilan ainda precisa ser nomeado para o cargo pelo presidente interino Michel Temer para assumir a função. O economista não deve participar, no entanto, da reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do BC) que termina nesta quarta-feira (8).

Mais cedo, a CAE (Comissão de Assunto Econômicos do Senado) aprovou a indicação por 19 votos a favor e 8 contrários.

Durante a sabatina na comissão, Ilan afirmou que terá como objetivo cumprir plenamente a meta de inflação de 4,5% estabelecida pelo governo, mirando o seu ponto central. Desde 2009, a inflação medida pelo IPCA não fica próxima ao centro da meta. Nos 12 meses encerrados em abril, a taxa está acima de 9%.

"Estamos no caminho para meta de 4,5%? Sim. Em um momento não muito distante pretendemos atingir o centro da meta", disse.

O economista afirmou que a retomada do crescimento econômico, da queda dos juros e do aumento do emprego passam pela reorganização das contas públicas. E refutou a tese de que o aumento de gastos e da inflação contribuam para o crescimento do país.

"Nossa história recente bem demonstra que níveis mais altos de inflação não favorecem o crescimento econômico, pelo contrário. A literatura econômica já refutou por diversas vezes o falacioso dilema entre a manutenção de inflação baixa e crescimento."

Para o economista, é necessário abandonar a política econômica adotada nos últimos anos e resgatar "o velho e bom tripé macroeconômico", que inclui responsabilidade fiscal, câmbio flutuante e cumprimento da meta de inflação.

"Todos nós gostaríamos de ver o custo de dinheiro cair. A dúvida é qual a melhor maneira para fazer isso. Temos que trabalhar nas raízes da causa, para que não se entre em um atalho, para que caia de forma permanente."

RESERVAS

Ilan disse ainda que é imprescindível manter e aprimorar a autonomia do Banco Central. Ele citou a proposta de Temer de tirar o status de ministro do chefe do BC, mas de colocar na Constituição que a instituição tem a autonomia técnica ou operacional para perseguir as metas de inflação. O economista disse ainda que, no futuro, seria positivo que os diretores do BC tivessem mandatos garantidos por lei.

O futuro presidente do BC também afirmou que a instituição pode rever o nível das reservas internacionais "assim que as condições permitirem". O Brasil tem hoje US$ 376 bilhões em moeda estrangeira, cerca de 20% do seu PIB (Produto Interno Bruto), algo próximo do nível de outros países emergentes.

"Esse seguro, no momento, é um seguro que vale a pena manter. Mas, assim que a gente passar esse período de incerteza, vale a pena fazer essa discussão sobre o nível ótimo das reservas, que depende também do quanto nos custa manter."

VENTOS FAVORÁVEIS

O Brasil não irá contar com os ventos favoráveis da economia mundial da década anterior, mas poderá voltar a crescer em 2017 se forem tomadas medidas concretas nesse sentido, afirmou Ilan.

Ilan afirmou que o cenário internacional é desafiador, mas que há algumas luzes no fim do túnel. Disse que a economia da China está desacelerando, mas que não acredita na possibilidade de uma parada brusca.

Sobre os EUA, afirmou que o banco central do país não tem pressa para elevar novamente os juros, pois há dúvidas sobre o ritmo de recuperação da economia local.

Para o economista, é factível que o Brasil volte a crescer em 2017, como projetam os economistas consultados pelo próprio BC. Para isso, no entanto, disse ser fundamental colocar as contas públicas em ordem, algo que ajudaria o BC a controlar a inflação.

OPOSIÇÃO

A oposição questionou a indicação de Ilan. A senadora Vanessa Grazziotin (PcdoB-AM), por exemplo, afirmou que ele não deveria ter seu nome aprovado por ter exercido recentemente função relevante em uma instituição financeira, o Itaú-Unibanco.

Grazziotin disse que esse entendimento está baseado na legislação atual e que já há várias ações populares no Judiciário que contestam o nome de Ilan.

A senadora Simone Tebet (PMDB-MS) questionou a tese da senadora do PcdoB. Afirmou que a lei citada trata de conflito de interesse no exercício do cargo e da questão da quarentena para quem vai do setor público para o privado. "Nada contra trazer da iniciativa privada informações valiosas para ajudar o país. Não vejo qualquer tipo de conflito", afirmou Tebet.


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