Folha de S. Paulo


Economista Mohamed El-Erian critica papel de socorrista dos bancos centrais

Patrick T. Fallon/Bloomberg/Getty Images
Mohamed El-Erian, chief economic advisor at Allianz SE, speaks during the annual Milken Institute Global Conference in Beverly Hills, California, U.S., on Monday, April 27, 2015. The conference brings together hundreds of chief executive officers, senior government officials and leading figures in the global capital markets for discussions on social, political and economic challenges. Photographer: Patrick T. Fallon/Bloomberg via Getty Images ****FOTO COM CUSTO PARA MERCADO ***** ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
Mohamed El-Erian,consultor-chefe de economia da Alianz

No Brasil, os economistas do mercado financeiro e das universidades celebram a proposta de independência do Banco Central, como forma de afastá-lo de interesses políticos dos mandatários e de preservar seu mandato de proteção da moeda e do bom funcionamento da economia.

Nos EUA e na Europa, onde existe a independência da autoridade monetária, a discussão hoje é se não foram longe demais no poder e na autonomia outorgados aos bancos centrais.

Esse é o assunto do novo livro do economista norte-americano Mohamed El-Erian, chefe do conselho econômico da seguradora Allianz e um dos maiores especialistas em renda fixa do mundo. Chamado "The Only Game in Town" ["A única saída", em tradução livre], o livro é um tratado sobre os acertos e os erros dos bancos centrais nas últimas décadas.

Para El-Erian, que cunhou a expressão "novo normal" para o atual ciclo de baixo crescimento, os bancos centrais deixaram o antigo papel de guardião da moeda contra a inflação para assumir também a função de socorrista de economias a caminho da depressão e da deflação.

Ele sustenta que os estímulos financeiros bilionários comandados pelos bancos centrais dos Estados Unidos, da Europa e do Japão desde a crise de 2008 não fizeram mais do que manter a economia global "respirando por aparelhos" e "comprar tempo" até a próxima crise.

FAZER O QUE FOR PRECISO

O economista vai mais longe ao lembrar a afirmação do presidente do BCE (Banco Central Europeu), Mario Draghi, em 2014, de "fazer o que for preciso" para impedir a implosão do euro e a saída da Grécia da zona de circulação da moeda única europeia.

Para El-Erian, "fazer o que for preciso" significa levar o trabalho dos bancos centrais ao caminho do experimentalismo ao adotar, por exemplo, taxa de juros negativa, cujos efeitos colaterais são ainda desconhecidos.

Nunca antes, afirma ele, os bancos centrais assumiram receitas tão heterodoxas, fora dos livros-textos e divergentes entre si. Por exemplo, o Federal Reserve (BC dos EUA) eleva os juros, enquanto o BC Europeu reduz as taxas.

"As taxas baixas de juros e a volatilidade reduzida dos mercados têm um impacto maior nos preços dos ativos financeiros negociados nos mercados do que nos investimentos reais da economia, arriscando a criação de bolhas financeiras muito antes que as economias atinjam a situação de pleno emprego", adverte o economista.

Para ele, essas políticas levaram a economia a mascarar desequilíbrios estruturais, como o excesso de oferta criado nos últimos anos tanto pelos produtores de insumos quanto de manufaturados, além do alto endividamento de governos, empresas e famílias, e a necessidade de ajustes fiscais ainda maiores.

EXTREMISMO

O resultado na sociedade, afirma El-Erian, tem sido até o momento o aumento do desemprego, o aprofundamento das desigualdades e o surgimento de partidos políticos extremistas, além do recrudescimento da violência e de revoltas sociais.

El-Erian lembra que os bancos centrais usam dinheiro público para comprar títulos de dívida em poder do mercado financeiro. Também decidem sobre assuntos como a disponibilidade de financiamento imobiliário para as famílias, além da liquidação e do resgate de instituições financeiras com elevado custo para os acionistas e para as contas dos governos. Por esses motivos, defende que atuem, no mínimo, de forma mais transparente.

A conclusão do livro é que os bancos centrais fizeram o que foi possível para evitar o próximo colapso na economia global. Agora, está nas mãos dos governos a promoção de reformas estruturais que corrijam os defeitos mascarados e que criem condições sustentáveis para iniciar o próximo ciclo.

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The Only Game in Town

AUTOR Mohamed A. El-Erian

EDITORA Random House

QUANTO R$ 93,30 na amazon.com.br (320 págs.)

AVALIAÇÃO bom


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