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Estratégia é parar de levar gol, diz Meirelles sobre medidas econômicas

Zanone Fraissat/Folhapress
Meirelles: redução de despesas anunciadas pelo governo é para fazer o país parar de tomar gols
Meirelles: redução de despesas anunciadas pelo governo é para fazer o país parar de tomar gols

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, disse nesta segunda-feira (30) que o objetivo das medidas de redução de despesas anunciadas pelo governo é fazer o país parar de tomar gols para dar segurança aos jogadores de ataque —ou seja, as forças produtivas e os consumidores. Ele não quis indicar quando o país deve voltar a crescer.

"A raiz da crise foi a desconfiança, o meio de campo e o ataque ficaram muito inseguros", disse ele durante evento em São Paulo. Ele respondia a uma pergunta do ex-ministro Luiz Fernando Furlan, do governo Lula, sobre se não estava faltando estratégia de ataque, ou seja, de crescimento, nas medidas.

"A estratégia em última análise é fazer gol, mas, como a trajetória dos bons times de futebol e também de seleções mostra, você começa não levando gol, se o time está com a defesa furada, digamos assim, não tem estratégia de ataque."

Meirelles apresentou, durante encontro com empresários promovido pela Câmara de Comércio França-Brasil de São Paulo, as medidas anunciadas pelo governo na semana passada, previstas em uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição) que deve ser finalizada em cerca de duas semanas para ser discutida com o presidente interino, segundo ele.

Uma das medidas previstas é o estabelecimento de um teto para os gastos públicos, que devem crescer apenas segundo o índice de inflação do ano anterior, o que incluiria as despesas com educação e saúde, que hoje são vinculadas à receita da União, com taxas fixas.

O ministro disse que o cálculo do defict nas contas públicas previsto para este ano, de R$ 170,5 bilhões, foi calculado "realisticamente" e "com muita precisão", uma forma de dar mais segurança ao mercado.

Porém também está sujeito a incertezas, incluindo o projeto de repatriação de recursos brasileiros mantidos irregularmente no exterior, e a renegociação das dívidas dos Estados —há um grupo de trabalho no governo estudando medidas sobre o assunto, e algumas unidades da federação defendem que haja suspensão dos pagamentos por até um ano.

O ministro afirmou que não foram incluídas na conta medidas "sujeitas a debate", como a volta da CPMF.

Questionado sobre opções do governo para aumentar a receita, como a volta da CPMF, o ministro disse que o foco agora está nas medidas de contenção de gastos e em seu efeito para a economia e a arrecadação de impostos e também em ações como a venda de ativos do governo para fazer caixa.

"Evidentemente que nunca se pode descartar eventuais aumentos de impostos que sejam transitórios, já que a carga tributária bruta do Brasil já é elevada", afirmou ele.

O ministro não quis indicar quando considera que o país vai voltar a índices positivos de evolução do PIB. "O crescimento deverá voltar a acontecer nos próximos trimestres. É um erro tentar fixar datas para algo que depende da conjunção de muitos fatores."


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