Folha de S. Paulo


Opções para elevar receita federal se concentram no Imposto de Renda

Se um aumento da carga tributária for mesmo inevitável para reequilibrar o Orçamento do governo federal, as opções à disposição da área econômica se concentram no Imposto de Renda.

A alternativa mais cômoda, do ponto de vista puramente tecnocrático, seria a ressurreição da CPMF, a contribuição provisória incidente sobre os débitos em conta corrente —proposta já em tramitação no Congresso.

Afinal, trata-se de um tributo já conhecido, cobrado até 2007, fácil de arrecadar e com bom potencial de receita mesmo em tempos de recessão, uma vez que a movimentação financeira de famílias e empresas não é tão afetada durante a crise.

No entanto, a extinção da CPMF —um exotismo tributário brasileiro— se tornou bandeira política de partidos como o PMDB e o PSDB, que hoje estão à frente do governo. A contribuição, prorrogada e elevada sucessivas vezes a partir dos anos 1990, ficou desgastada politicamente.

Outra possibilidade, cogitada desde o ano passado, seria um aumento da Cide incidente sobre a gasolina, que tem a vantagem de poder ser fixada por decreto presidencial, sem necessidade de aprovação pelo Congresso.

Mas a eventual alta dessa taxação teria impacto imediato sobre o preço do combustível, dificultando ainda mais a tarefa de controlar a inflação, reduzir juros e retomar o crescimento da economia.

OPÇÕES PARA O AUMENTO DE TRIBUTOS - Quanto pode render, por ano, em R$ bilhões

INDIRETOS

Há pouca ou nenhuma margem, aliás, para a elevação de qualquer dos tributos indiretos -aqueles incidentes sobre a produção e o consumo, embutidos nos preços das mercadorias e serviços.

O Brasil já é um dos recordistas mundiais em tributação indireta. Em 2014, pelos dados oficiais mais recentes, a arrecadação total de impostos, taxas e contribuições foi equivalente a 31,3% da renda nacional, e os tributos sobre bens e serviços responderam por pouco mais da metade desse total, ou 16% do PIB.

Entre os países mais desenvolvidos, só a Hungria, com 17,3%, supera esse percentual, segundo dados da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) de 2013.

Aumentos adicionais desses tributos agravarão distorções econômicas como preços excessivos, obstáculos aos investimentos e carga excessiva sobre a parcela mais pobre da população.

PATRIMÔNIO E RENDA

Sobram, portanto, os impostos e contribuições sobre propriedade e renda. No primeiro caso, há um inconveniente básico: baixa capacidade de arrecadação.

Em todo o mundo, tributos sobre imóveis, veículos, doações, heranças e grandes fortunas respondem por uma parcela restrita da receita dos governos. Nesses casos, alíquotas mais altas estimulam a fuga de contribuintes ou a sonegação pura e simples.

Não por acaso, boa parte das propostas e estudos mais recentes para o ajuste fiscal envolve o Imposto de Renda, que arrecada relativamente pouco no Brasil -a tributação diretas de lucros e salários ficou em 5,6% do PIB em 2014, contra uma média de 11,7% nos países da OCDE.


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