Folha de S. Paulo


Brasil ainda corre risco de ter recuperação seguida de queda

O ciclo de recuperação da economia brasileira, esperado para começar no ano que vem, ainda é incerto.

Embora números recentes indiquem que o fundo do poço está próximo, a garantia de retomada depende de ações do governo interino Michel Temer para que não haja um "voo de galinha" —breve recuperação seguida de nova queda.

Segundo Alberto Ramos, diretor de pesquisa econômica para América Latina do Goldman Sachs, a recuperação é ainda uma "promessa" e dependerá da capacidade do governo mostrar que pode construir um consenso político em prol de reformas que façam com que o setor público gaste menos e evite que a atual tendência de suas contas "termine numa crise devastadora".

"A esperança é que o governo valide essas expectativas", afirma.

Confiança do empresário melhora, embora permaneça baixa - Índice de 0 a 100

Se o quadro positivo no campo político se confirmar, o Itaú Unibanco prevê que a projeção de crescimento para 2018 pode saltar dos cerca de 2% para até 4%.

Ramos, porém, vê este cenário com mais moderação. O estrago no investimento provocado por dez trimestres seguidos de queda indica que a retomada pode não ser tão rápida.

E, sem medidas que melhorem o ambiente de negócios e abram a economia a inovações, cada soluço de crescimento será acompanhado de mais inflação.

"Uma recuperação mais forte não é difícil, dada a base deprimida [referindo-se à profundidade da atual recessão], mas este não é mais o potencial de crescimento do Brasil, e a taxa pode cair de novo", afirma.

Projeções de desempenho do PIB - Em %

Um dos fatores que deverá contribuir para a recuperação, segundo os analistas, é a esperada queda da taxa de juros, ainda neste ano.

O Itaú Unibanco espera que a taxa caia dos atuais 14,25% ao ano para 12,25%. Ramos também vê chance de cortes, já a partir de agosto.

Isso teria como resultado a diminuição do custo financeiro para empresas e para o governo. Mas para se materializar, a inflação tem que dar mais sinais de queda.

Sérgio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados, diz que o crescimento em 2017 tem viés de alta, mas depende de "Dilma Rousseff não voltar e de Temer não cair" -o processo de impeachment depende de votação no Senado.

"Teremos turbulência política para consumir nos próximos meses", afirma.

Segundo ele, para se ter ideia do potencial de recuperação da economia, em 1992, após o impeachment do então presidente Fernando Collor de Mello, ocorre um forte crescimento da produção industrial.

Após impeachment de Collor, indústria disparou - Evolução da produção


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