Folha de S. Paulo


Tensão política e provável alta de juros nos EUA fazem dólar subir e Bolsa cair

Eduardo Anizelli/Folhapress
Renan Calheiros preside sessão do Senado para decidir sobre a admissibilidade do processo de impeachment da presidente Dilma
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL)

Em dia de poucos negócios na volta do feriado de Corpus Christi, o dólar operou em alta ante o real desde cedo nesta sexta-feira (27), refletindo a cautela em relação ao cenário político. Os investidores também esperavam o discurso da presidente do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA), Janet Yellen, que confirmou a possibilidade de aumento dos juros americanos nos próximos meses.

O Ibovespa chegou a subir no início da sessão desta sexta-feira (27), mas perdeu fôlego e passou para o terreno negativo. A queda foi ampliada após a fala de Yellen, uma vez que o possível aumento dos juros americanos tira atratividade dos mercados emergentes.

A turbulência no cenário político, provocada por gravações do ex-presidente da Transpetro Sergio Machado contendo conversas embaraçosas com a cúpula do PMDB, pressiona o mercado doméstico. Machado fez acordo de delação premiada no âmbito da Operação Lava Jato.

As incertezas se refletiram na alta dos juros futuros de longo prazo e no CDS (credit default swap), indicador de percepção de risco do país.

Analistas citam como um dos principais motivos de preocupação um eventual afastamento do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), um dos alvos das gravações.

"Ninguém sabe a que rumo essas gravações podem levar, e Renan é uma peça importante para garantir a aprovação das pautas econômicas do presidente Michel Temer", destaca Guilherme Lerosa, economista da Lerosa Investimentos.

Analistas e operadores comentam ainda que, embora a chance seja remota, a turbulência no campo político pode provocar até uma reviravolta no processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff.

CÂMBIO E JUROS

A moeda americana à vista fechou com valorização de 0,64%, a R$ 3,6068. O dólar comercial subiu 0,30%, a R$ 3,6100.

O dólar avançou frente às principais moedas com as expectativas de uma alta próxima dos juros americanos. A queda do petróleo no mercado internacional também afetou as moedas de países emergentes, como real.

No mercado de juros futuros, o contrato de DI para janeiro de 2017 recuou de 13,690% para 13,685%, mas o DI para janeiro de 2021 subiu de 12,740% para 12,910%.

"A crise política pode complicar a aprovação das medidas econômicas e, com isso, o Banco Central pode não conseguir reduzir a taxa básica de juros", afirma Alexandre Espírito Santo, economista da Órama Investimentos. O profissional trabalha com um cenário de queda da taxa de juros no país em agosto.

O CDS (credit default swap), espécie de seguro contra calote e indicador da percepção de risco do país, avançava 0,20%, aos 350,530 pontos.

BOLSA

O principal índice da Bolsa paulista terminou o pregão em baixa de 0,87%, aos 49.051,49 pontos. O giro financeiro foi de apenas R$ 4,351 bilhões, o menor das últimas sessões.

Além desta sexta-feira ser de feriado prolongado, a próxima segunda-feira (30) será feriado nos EUA, o que também tira a liquidez dos negócios.

Na semana, o Ibovespa perdeu 2,16%; no mês, cai 9,01%. No acumulado do ano, o índice tem alta de 13,15%.

As ações da Petrobras recuaram, seguindo a queda do petróleo no mercado internacional. O papel PN caiu 5,07%, a R$ 8,23, e o ON perdeu 5,49%, a R$ 10,49.

Vale PNA recuou 2,06%, a R$ 11,39, e Vale ON, -2,25%, a R$ 14,29.

No setor financeiro, Itaú Unibanco PN perdeu 0,99%; Bradesco PN, -1,43%; Banco do Brasil ON, -1,94%; Santander unit, -0,55%; e BM&FBovespa ON, +0,62%.

EXTERIOR

Na Bolsa de Nova York, o índice S&P 500 encerrou a sexta-feira em alta de 0,43%; o Dow Jones, +0,25%; e o Nasdaq, +0,65%.

A maioria das Bolsas europeias fechou no campo positivo. Na Ásia, o índice Nikkei da Bolsa de Tóquio subiu 0,37%, e o índice CSI300, que reúne as maiores companhias listadas em Xangai e Shenzhen, na China, recuou 0,06%.


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