Folha de S. Paulo


Crise e críticas afetam venda de empresas estatais

Problemas diversos, da desvalorização das empresas a entraves políticos, são obstáculos para que o presidente interino, Michel Temer, amplie o programa de privatização iniciado pela presidente afastada Dilma Rousseff.

Temer tem sob seu comando 125 empresas estatais -a grande maioria no setor financeiro e de energia- que podem ter seu controle vendido ao setor privado.

Mas, de início, o interino deverá ficar concentrado num outro campo das privatizações, as concessões de infraestrutura, como portos, aeroportos e rodovias.

Na mais atual avaliação pública sobre as estatais do país, do ano de 2013, o departamento que cuida das empresas no Ministério do Planejamento informou que as 141 existentes na época tinham 550 mil empregados.

No total, essas companhias tinham ativos estimados em pouco mais de R$ 4 trilhões, sendo 75% desse valor com empresas financeiras.

Nos últimos dois anos, no entanto, os ativos dessas companhias perderam valor de mercado por causa da crise. Além disso, as dívidas das estatais cresceram.

Pelas primeiras informações do governo Temer, cada ministério vai cuidar desse tipo de privatização, levando à Casa Civil e à Presidência empresas que poderiam passar ao setor privado.

O governo da presidente afastada já vinha preparando algumas dessas empresas para a venda, principalmente no setor financeiro. No ano passado, o governo chegou a anunciar a venda da Caixa Seguros, empresa de seguro. Mas ela não foi adiante.

A Petrobras também tem tentado se desfazer de parte de suas empresas. A principal é a BR Distribuidora, responsável pelos postos de combustível. Em ambos os casos, a crise do país reduziu o valor das companhias e tornou a venda desvantajosa.

Governo privatizar

RESISTÊNCIA MENOR

Entre as estatais federais, as que sofrem menos resistência política para venda e atraem mais interesse de outras empresas da área são as de transporte.

Um exemplo é a Infraero, cuja direção já trabalhava num plano de separar a companhia em duas, uma com ações da empresa nas concessões aeroportuárias, realizadas entre 2013 e 2014, e outra com os aeroportos que a estatal ainda administra.

A mudança era tocada quando o ministro da Aviação Civil era Eliseu Padilha, hoje na Casa Civil. A intenção era colocar as ações da empresa na Bolsa, mas a crise política freou a operação.

Já no setor financeiro, os dois grandes bancos de varejo -Banco do Brasil e Caixa- dificilmente poderiam ser colocados à venda sem oposição forte de setores antiprivatização de Congresso e sindicatos. Outras empresas na área de seguros ou cartões, por exemplo, poderiam mais facilmente ser negociadas.

A mesma oposição enfrentaria o governo para vendas no setor de óleo e gás, controlado pela Petrobras. No caso da estatal, até mesmo a transação de participação dela em outras empresas sofre resistência no Legislativo.

"A venda de ativos é irresponsável. Com o preço do petróleo tão baixo temporariamente, eles estão desvalorizados", disse Fernando Siqueira, vice-presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobras, avisando que as associações vão brigar "porque o objetivo real é a venda do pré-sal".

O outro setor em que o Estado ainda atua forte, o de energia, enfrenta, além da resistência de sindicatos, um problema mais grave. As mudanças feitas pelo governo anterior no sistema elétrico desvalorizaram empresas do grupo, que foram obrigadas a assinar contratos considerados pouco vantajosos.

Já a venda de distribuidoras são consideradas difíceis porque as empresas são deficitárias em mercados de baixo consumo (Norte e Nordeste) -com exceção da Celg (GO), que o governo afastado tentava vender desde 2014.


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