A presidente afastada, Dilma Rousseff, escalou o ex-ministro da Fazenda Nelson Barbosa para rebater o cálculo da equipe do presidente interino, Michel Temer, sobre o rombo nas contas públicas.
Os ministros Henrique Meirelles (Fazenda) e Romero Jucá (Planejamento) devem anunciar nesta sexta-feira (20) o novo déficit fiscal, que calculam estar em torno de R$ 180 bilhões. O número é quase o dobro dos R$ 96,7 bilhões projetados pela equipe de Dilma. O governo interino vai publicar um relatório de reavaliação do Orçamento, que trará as novas previsões de arrecadação e gastos para este ano.
Segundo a Folha apurou, Barbosa deve conceder uma coletiva à imprensa na segunda-feira (23) para explicar a discrepância entre os dados. A equipe de Dilma, porém, ainda não bateu o martelo quanto ao formato das declarações do ex-ministro nem se a presidente afastada participará ou não com ele da entrevista.
Desde quarta-feira (18), Dilma tem feito interações diárias nas redes sociais para rebater o que classifica como medidas polêmicas do governo Temer. Acompanhada de ministros de cada área, já falou sobre Bolsa Família e programas sociais, cultura e Previdência.
Assessores da petista afirmam que economia é um assunto áspero e bastante sério para ser tratado nas redes sociais, com muitos números e detalhes técnicos, e que, por isso, uma entrevista a jornalistas poderia ser a melhor solução para Barbosa.
Dilma ordenou que "nada fique sem resposta" enquanto estiver afastada do cargo. A petista montou uma espécie de "bunker de resistência" no Palácio da Alvorada para trabalhar enquanto o Senado faz seu julgamento por crime de responsabilidade fiscal. Caso seja condenada, deixará a Presidência da República definitivamente.
No vermelho - Deficit nas contas do governo vem aumentando desde 2014; em R$ bilhões
COMPORTAMENTO
Auxiliares, ex-ministros e assessores que estiveram no Alvorada nos últimos dias relataram à Folha que Dilma não tem demonstrado abatimento e ainda "manda" como se fosse presidente de fato, inclusive demonstrando a impaciência habitual quando as coisas não saem exatamente do jeito que ela espera.
Além da estratégia montada para o que chamam de contra-ataque digital, que deve contar ainda com as ex-ministras Eleonora Menicucci (Mulheres) e Katia Abreu (Agricultura), Dilma tem conversado com os ex-ministros Jaques Wagner (Gabinete Pessoal da Presidência), Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo), Aldo Rebelo (Defesa) e José Eduardo Cardozo (Advocacia-Geral da União) para traçar sua defesa também fora das redes sociais.
APESAR DE VOCÊ
Na quarta-feira (18), quando fez o Face to Face no Facebook com a ex-ministra Tereza Campello (Desenvolvimento Social e Combate à Fome), um internauta pediu que Dilma voltasse a recomendar músicas em suas páginas oficiais.
A presidente afastada sugeriu então "Apesar de você", do cantor e compositor Chico Buarque. À equipe que estava com ela na biblioteca do Alvorada, Dilma contou que ouviu a música pela primeira vez quando estava presa no Presídio Tiradentes, em São Paulo, durante a ditadura militar.
Segundo ela, uma amiga de cela tinha um rádio de pilha que pegava muito mal e foi por ali que ouviu a voz Chico no famoso refrão: "apesar de você amanhã há de ser outro dia".
Não entendeu de imediato que a música era uma crítica à ditadura militar. Achou que Chico havia se separado da sua mulher na época, a atriz Marieta Severo.