Folha de S. Paulo


Escândalos em testes ganham força e derrubam presidente da Mitsubishi

Thomas Peter/Reuters
Presidente da Mitsubishi Motors, Tetsuro Aikawa, que anunciou que vai renunciar ao cargo
Presidente da Mitsubishi Motors, Tetsuro Aikawa, que anunciou que vai renunciar ao cargo

O presidente da Mitsubishi Motors, Tetsuro Aikawa, anunciou que renunciará ao cargo por causa de um destrutivo escândalo de testes de consumo de combustível que se estendeu também à rival Suzuki Motor.

A Suzuki, quarta maior montadora de automóveis do Japão, está sendo investigada pelas autoridades regulatórias depois que uma investigação interna constatou que seus métodos de teste de consumo de combustível não cumprem as normas nacionais japonesas desde 2010. Todos os 16 modelos que a montadora vende em seu mercado de origem foram afetados, ela anunciou, e um total de mais de 2,1 milhão de veículos.

"Pedimos profundas desculpas por não utilizarmos o método de mensuração designado", disse Osama Suzuki, 86, o presidente-executivo da montadora, em entrevista coletiva.

Mas a produtora de carros compactos não via necessidade de revisar seus dados sobre o consumo de combustível em sua linha porque o desempenho de seus veículos não mostrou grande diferença —menos de 5%— quando o método correto de teste foi aplicado.

Os problemas da Suzuki, que causaram queda de 9,4% em suas ações, vieram à luz depois que o Ministério do Transporte japonês ordenou que as montadoras de automóveis revisassem seus dados sobre consumo de combustível e seus métodos de teste.

No mês passado, a Mitsubishi anunciou que alguns de seus funcionários haviam exagerado em até 15% a eficiência energética de quatro tipos de carros pequenos acionados a gasolina vendidos no Japão, dois dos quais ela monta para a Nissan.

A Mitsubishi, sexta maior montadora de automóveis do Japão, admitiu posteriormente que desde 1991 vinha usando métodos de teste de consumo de combustível que não respeitavam os padrões japoneses.

Na quarta-feira (18), a empresa anunciou que os dados sobre consumo de combustível de mais dois modelos, entre os quais os utilitários esportivos RVR e Pajero, haviam sido calculados incorretamente.

Dados para três outros modelos, entre os quais o híbrido Outlander, recarregável em tomada, foram calculados em escritório, em lugar de se basearem em números obtidos em testes, como requer a lei japonesa.

O consumo de combustível apresentava diferença de cerca de 3% ante oi obtido quando um método apropriado de teste foi posto em uso, de acordo com relatório submetido às autoridades regulatórias.

Também na quarta-feira, Tetsuro Aikawa, presidente da Mitsubishi, disse que renunciaria em 24 de junho a fim de abrir caminho para a recuperação da empresa sob o controle da Nissan, que na semana passada fechou acordo para injetar US$ 2,2 bilhões em capital na companhia em troca de uma participação acionária de 34%. "Se eu ficar como presidente, estarei no caminho da reformulação", ele disse.

Aikawa reiterou que os executivos da empresa não haviam instruído subordinados a manipular os números quanto a consumo de combustível. Mas o comando da montadora havia falhado por não reconhecer e corrigir esses desvios de conduta ao longo de um período tão extenso.

A Mitsubishi disse que a feroz concorrência no mercado japonês de minicarros colocava seu pessoal sob pressão para atingir as metas de consumo de combustível.

Osamu Matsuko, o presidente-executivo da montadora, disse que manteria o posto até que uma nova equipe de gestão fosse formada, mas que não seria remunerado pelo seu trabalho no período de transição. A Nissan deve indicar o presidente do conselho e um terço dos conselheiros da montadora.

LACUNAS

O escândalo que tomou o setor expõe lacunas de controle que foram desconsideradas por décadas. Os métodos de teste japoneses já estavam sob crítica dos consumidores pela grande diferença - de em média 30% - entre os números de consumo de combustível mencionados na publicidade e os números obtidos em uso real.

A Suzuki informou que havia medido a resistência que um carro enfrenta do ar e do atrito dos pneus dentro de um edifício, como parte de seus testes de consumo, em lugar de fazê-lo na sinuosa pista de teste que ela opera no topo de uma colina e perto do oceano.

Executivos disseram acreditar que os funcionários envolvidos não estavam tentando conseguir números melhores, mas que haviam violado a lei porque recolher dados consistentes é mais fácil em ambiente fechado.

A Suzuki, que tem forte presença na Índia, onde sua filial Maruti Suzuki controla quase metade do mercado nacional de veículos, disse não ter encontrado quaisquer dados falsos, e que continuaria a vender os veículos envolvidos. Os escândalos não envolveram veículos vendidos no exterior, nem na Mitsubishi e nem na Suzuki.

Os problemas das duas montadoras diferem em escopo, mas analistas afirmaram que ambos os casos destacavam a necessidade de uma organização externa para verificar se os números fornecidos pelas montadoras são corretos.

"Se o problema da Mitsubishi não tivesse surgido, talvez ninguém se apresentasse para anunciar que estava violando a lei japonesa", disse Yoshihiro Okumura, gerente geral da Chibagin Asset Management. "A menos que exista um mecanismo externo de verificação, esse problema pode durar para sempre".

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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