Folha de S. Paulo


Crítica

Jornalista mostra Heineken além das garrafas verdes

Peter Dejong - 9.dez.2008/Associated Press
Museu Heineken Experience, em Amsterdã, Holanda
Museu Heineken Experience, em Amsterdã, Holanda

Não é pré-requisito ser amante de cerveja para apreciar "A História da Heineken - A Cerveja que Conquistou o Mundo".

Lançado em 2014, ano em que a cervejaria completou 150 anos, o livro narra a trajetória da cervejaria holandesa e de como ela conseguiu se manter na posição de compradora (e não de comprada), em um mercado que passou por profundas transformações nas últimas décadas e que hoje é fortemente dominado pela gigante belgo-brasileira AB InBev.

O livro é assinado pela jornalista Barbara Smit, que foi correspondente do "Financial Times" e de outras publicações em Amsterdã. E baseia-se fortemente em pesquisas e centenas de entrevistas feitas pela autora em meados dos anos 1990, quando publicou, na Holanda, uma biografia não autorizada de Alfred (Freddy) Heineken, o famoso e controverso bilionário que recomprou o controle para a família nos anos 1970 e transformou a marca Heineken em uma das mais consumidas cervejas premium no mundo.

A edição brasileira, recém- lançada pela Zahar, foi atualizada para incluir a última tacada na guerra das cervejas, a aquisição do segundo maior grupo cervejeiro do mundo, SABMiller, pela líder AB InBev, no fim de 2015.

Com a consolidação da fusão das operações das duas maiores, a Heineken passará da terceira para a segunda posição mundial, mas com um quarto do tamanho da AB InBev. Ainda assim, uma potência com 85 mil funcionários, receitas de € 21,25 bilhões e produção de 180 milhões de hectolitros de cerveja.

Histórias de empresas centenárias europeias incluem sempre capítulos fascinantes do período das Grandes Guerras e aqui não é diferente.

Uma das poucas indústrias que mantiveram suas máquinas funcionando durante a ocupação alemã na Holanda na Segunda Guerra Mundial foi a de cerveja. E não só se mantiveram funcionando como viram a produção aumentar, pois eram obrigadas a fornecer uma ração de dois litros de cerveja por semana para os soldados alemães estacionados no país.

A Heineken foi pioneira num processo de internacionalização da marca e, já nas primeiras décadas do século 20, estava presente na África e na Ásia. Foi também a primeira estrangeira a desembarcar nos EUA após o fim da Lei Seca. A cervejaria estava na vanguarda quando o mercado virou de ponta-cabeça com o surgimento da geladeira e da TV, que levaram o consumo dos bares para dentro de casa e tornaram a propaganda e o marketing as principais armas desse negócio.

MULHERENGO

Mais do que as garrafas verdes, o personagem central dessa história é Freddy Heineken, tão interessante e complexo que uma palavra só não é capaz de descrevê-lo: visionário, hábil empresário, elegante, extravagante, presunçoso, mulherengo e misógino. Não completou estudos formais, gostava de carros, arquitetura e de tocar e compor música de jazz.

A extravagância se manteve presente até nas três semanas em que esteve sequestrado, nos anos 1980 –escovava o cabelo com um pente e pedia para escovar os dentes depois das refeições–, episódio que em 2015 chegou as telas de cinema.

A História da Heineken
Barbara Smit
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Freddy, que morreu em 2002, encontrou-se com a autora por cinco vezes nos anos 1990, quando ela estava preparando o primeiro livro. Apesar das piadas de que iria colocar calmante no chá da jornalista e que iria levá-la para cama, as conversas duravam horas e horas.

Quando percebeu que Smit não cederia ao seu charme a ponto de permitir a leitura dos manuscritos, o bilionário extravagante passou a atrapalhar sua apuração –proibiu funcionários e pessoas próximas de dar declarações. Mesmo assim ela conseguiu ouvir muitas fontes sob condição de anonimato, além de ter acesso a muita documentação, para produzir um livro bastante completo sobre uma história extraordinária.

A História da Heineken
AUTORA Barbara Smit
EDITORA Zahar
QUANTO R$ 59,90 (304 págs.)
AVALIAÇÃO muito bom


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