Pela legislação brasileira, o vice-presidente Michel Temer tem 180 dias garantidos na Presidência, caso Dilma Rousseff seja mesmo afastada no cargo. Mas, para Michael Watkins, professor da escola de negócios IMD, na Suíça, e especialista em transição de liderança, ele terá apenas 90 dias para provar que pode ser presidente.
É nesse período, segundo o autor do best-seller "Os Primeiros 90 Dias", que um executivo tem de mostrar a que veio. "As ações que empreender durante seus primeiros três meses em um novo cargo definirão, de modo geral, seu sucesso ou fracasso", afirma, no livro.
No caso de Temer, isso significa, de acordo com Watkins, construir uma equipe confiável, se descolar do escândalo de corrupção que atingiu o governo e tomar medidas rápidas para tirar o país da paralisia. "Se eu fosse ele, tomaria medidas agressivas para lidar com o que as pessoas acreditam que são os problemas mais urgentes."
Para os empresários que lidam com a crise, ele sugere mais cautela: é preciso, sim, agir rápido para não afundar. Mas construir as bases para o momento da virada econômica é igualmente importante.
O especialista, que também é presidente da consultoria Genesis Advisers, participa no próximo dia 18 de evento da empresa de educação executiva HSM, em São Paulo.
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Folha - De todos os conselhos reunidos no livro, qual o sr. considera essencial?
Michael Watkins - Quando um líder começa em um novo cargo, precisa se concentrar em duas coisas: acelerar o processo de aprendizagem sobre seu trabalho e a cultura da companhia e construir as relações e conexões certas. Se fizer isso, e bem, está construída a base para todo o resto.
No livro "Os Primeiros 90 Dias" o sr. diz que é preciso se adaptar aos cenários, entender o todo antes de apostar em uma solução. Como os líderes podem se adaptar a recessões?
Hoje, no Brasil, a maior parte do trabalho de um líder está ligada a buscar a virada, resolver os problemas profundos que estão sendo enfrentados. Uma situação de crise como essa significa que a empresa está tentando reduzir seus custos, se concentrar no processo de vendas. Você pode estar precisando reduzir o tamanho da companhia, então precisa demitir gente, e isso impacta o moral dos funcionários.
Ao mesmo tempo, eu vi muitas empresas passando por esse processo durante a crise de 2008/2009 nos EUA, e as melhores delas também estavam concentradas no que ia acontecer depois, como poderiam se posicionar para quando as coisas começassem a melhorar.
Você não quer ficar preso nesse ciclo de cortes e prejudicar tanto a companhia que, quando a virada vier –e ela virá–, não terá sobrado nada.
Bons líderes são mais importantes em tempos bicudos?
Alguns tipos de líder são realmente importantes durante tempos ruins, aqueles que inspiram as pessoas mesmo em momentos duros e conseguem tomar decisões difíceis. Mas esse é só um tipo de líder. E esta é uma das principais mensagens do meu livro: diferentes situações demandam diferentes tipos de líderes e liderança. Esse é um momento em que as pessoas precisam ser reasseguradas, querem um líder forte e carismático –são esses que tendem a prosperar em tempos complicados.
O vice-presidente Michel Temer pode assumir a Presidência nesta semana. O que ele deveria fazer em seus primeiros 90 dias de governo?
Quando você assume um cargo interinamente, faz muita diferença se quer ou não permanecer nele. Como ele parece querer, eu diria que há três coisas que precisam ser feitas. A primeira é mostrar que ele não foi contaminado pelos escândalos e que representa uma ruptura da situação atual. Para isso, é preciso também escolher pessoas vistas como confiáveis e concentradas em fazer a coisa certa para compor o governo.
A partir daí, é preciso conquistar vitórias rápidas, fazer algo que possa construir sua credibilidade e levantar o moral do país. Se eu fosse ele, tomaria medidas agressivas para lidar com o que as pessoas acreditam que são os problemas mais urgentes.
É óbvio que o sistema político do país está paralisado, então deve haver questões que, se agir rapidamente, ele pode resolver.