Folha de S. Paulo


Presidência do Banco Central sob Temer vira escolha de 'falcões'

A menos de uma semana da provável confirmação do afastamento da presidente Dilma Rousseff, o mercado arranca os cabelos tentando adivinhar quem será o presidente do Banco Central do governo Michel Temer.

O posto atrai especial interesse porque sua equipe define a taxa de juros, influencia na cotação do dólar e é responsável por manter o sistema bancário do país saudável e na linha.

Normalmente escolhido pelo presidente da República, desta vez o chefe do BC será definido pelo futuro ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Fazer essa indicação foi uma exigência dele para aceitar o cargo.

Os economistas Ilan Goldfajn e Mário Mesquita, ambos ex-diretores do BC, são apontados como favoritos por pessoas próximas a Meirelles. Afonso Bevilaqua, outro ex-diretor da instituição, também está no páreo.

Até agora, Meirelles vinha sondando esses e outros nomes para saber quem estaria disposto a assumir o cargo no governo Temer. O teor das conversas ainda é segredo guardado a sete chaves, mas Mesquita teria dito a amigos que seria complicado deixar São Paulo com a família.

O que Meirelles já definiu é que o atual presidente do BC, Alexandre Tombini, continuará no cargo pelo menos até a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em 7 e 8 de junho.

Tanto Goldfajn quanto Mesquita são nomes respeitados no meio empresarial.

Goldfajn é economista-chefe do Itaú Unibanco. Foi diretor de Política Econômica do Banco Central na gestão de Armínio Fraga e permaneceu no posto durante alguns meses, numa fase de transição, após Meirelles ter assumido a presidência da instituição, em 2003.

Mesquita é sócio do banco Brasil Plural. Ocupou as diretorias de Estudos Especiais e de Política Econômica no BC, sob a batuta de Meirelles, entre 2006 e 2010.

Embora ambos sejam economistas de orientação liberal, a percepção do mercado é a de que Mesquita tem uma posição mais conservadora em relação à política monetária ("hawkish" no termo em inglês). Até recentemente achava que as projeções mais positivas de queda da inflação poderiam ser frustradas.

Já a equipe de Goldfajn adotou há mais tempo uma visão otimista ("dovish" no termo em inglês) da inflação.

Apesar de diferenças recentes na leitura do quadro macroeconômico, ex-colegas de BC dos dois acreditam que Mesquita e Goldfajn teriam comportamento muito parecido na presidência do Banco Central.

Ambos participam do Centro de Debate de Políticas Públicas, fórum de discussões liberal fundado por Goldfajn e o economista Affonso Celso Pastore, que foi muito frequentado por Meirelles nos últimos meses.

Ex-colega de Mesquita no BC, durante a gestão de Meirelles, Bevilaqua é considerado o mais conservador dos três em relação à inflação.

Ele ganhou essa fama durante sua passagem pelo BC, quando era criticado por integrantes do governo por se mostrar resistente à redução dos juros.

Hoje consultor, o economista teria defendido que, apesar da severa recessão, seria preciso aumentar os juros para reduzir a inflação (hoje em 9,28%).

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ORNITOLOGIA DO BC
Saiba as ideias defendidas pelos cotados para dirigir o Banco Central

Editoria de Arte/Folhapress
Pomba mercado

Dovish: mais tolerante com inflação, com tendência a manter juros mais baixos. Dove é pombo em inglês

Alexandre Tombini - presidente do Banco Central (2011-até agora) - Ganhou o apelido de "pombini" quando, em 2012, baixou a taxa básica de juros (Selic) até a mínima histórica de 7,25% ao ano, mesmo com a inflação no período estivesse acima de 5%, superando o centro da meta (4,5%)

Editoria de Arte/Folhapress
Gavião mercado

Hawkish: forte rigor no combate à inflação, com tendência a manter juros mais altos. Hawk é falcão em inglês

Ilan Goldfajn - economista do Itaú diretor do BC (2000-2003) - Era da diretoria do BC quando a meta foi ajustada para cima, para acomodar uma inflação mais elevada em 2003 e 2004. Em seus relatórios, prevê queda da taxa de juros no segundo semestre deste ano, apesar da inflação de 9,28%

Mário Mesquita - sócio do Brasil Plural - diretor do BC (2006-2010) - Visto como mais duro, defendeu em artigos recentes corte da meta de inflação e que a recessão pode não provocar redução significativa dos reços, o que limitaria a queda da taxa básica de juros, hoje em 14,25% anuais

Afonso Bevilaqua - consultor diretor do BC (2003-2007) - É visto como o mais "falcão" de todos os cotados para o BC, ou seja, o mais inclinado a aumento da taxa de juros. Neste ano, em reunião com clientes, teria defendido aumento da taxa de juros, apesar da recessão econômica


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