Folha de S. Paulo


No Brasil, '25% dos celulares ainda são 'Burrofones'

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O ex-jogador de futebol Tostão, dono de um 'burrofone
O ex-jogador de futebol Tostão, dono de um 'burrofone'

Campeão do mundo e ídolo do esporte brasileiro, o médico e ex-jogador de futebol Tostão não demonstra o mesmo apreço pela tecnologia como o que tem pela bola. Avesso aos smartphones, o colunista da Folha ainda usa um celular antigo.

"Só uso o celular para telefonar e receber chamadas. Às vezes recebo mensagens, mas nunca mando. Isso [o smartphone] não me faz falta", diz Tostão pelo seu "burrofone" (dumbphone, em inglês).

Pode parecer raro, mas Tostão representa uma quantidade considerável de pessoas avessas à tal tecnologia. Aproximadamente 25% das linhas móveis ainda permanecem restritas a chamadas de voz -o máximo em tecnologia são mensagens SMS.

Dados da Anatel mostram que, em março, 62,7 milhões de linhas móveis operavam em "burrofones", ou seja, trabalhavam via 2G –sem acesso à internet.

Em um mercado quase saturado –as vendas de smartphones caíram 13,4% no país em 2015– e em meio a uma recessão econômica, que inviabiliza uma forte expansão, a disputa pela modernização desse nicho "parado no tempo" ganha importância.

2G no Brasil - Celulares sem acesso à internet, por DDD, em %

"Nós vivemos uma transição em que a receita de voz cai muito. Então, há essa tentativa de estimular a migração para incentivar a compra de pacote de dados", afirma Eduardo Tude, diretor da consultoria Teleco.

Segundo a Folha apurou, a alta na receita das operadoras pode chegar a 50% na comparação entre um pacote de voz e um de voz mais dados. As quatro grandes operadoras do país reconhecem os esforços em avançar ante os 25% resistentes.

"Geralmente, clientes que passam a ter uma melhor experiência com o uso da internet contratam pacotes de dados e, logo, geram mais receitas", disse a Vivo, em nota.

Além do aumento de receita, há a necessidade de remanejar investimentos, de acordo com Ricardo Distler, diretor-executivo da consultoria Accenture.

ESTRATÉGIAS

O mercado sabe que há três motivos principais para o alto percentual de "burrofones" no país: preço dos aparelhos, falta de conhecimento e problemas no sinal.

"A primeira barreira é o preço. Por isso, buscamos negociar com fabricantes um aparelho de entrada a preços acessíveis", afirma Rodrigo Vidigal, diretor de marketing da Claro.

A Oi aposta em planos que oferecem dinheiro para aparelhos usados.

"Isso visa tornar o processo de troca de tecnologia mais rápido, agrega receita de dados e melhora a experiência de uso", afirma Roberto Guezburger, diretor de produtos e mobilidade da Oi.

A Vivo também apela a descontos em novos aparelhos, enquanto a TIM promove workshops com aulas para demonstrar a funcionalidade dos smartphones.

SEM ACESSO

De acordo com analistas, as regiões que concentram o maior percentual de linhas 2G são as de menor renda e pior qualidade no serviço oferecido pelas empresas.

É consenso que a dificuldade em encontrar sinal inviabiliza a chegada de mais smartphones a tais locais.

"Regiões de menor renda tipicamente têm menor participação em razão das dificuldades do sinal", afirma Guezburger, da empresa Oi.

Mesmo com a expansão do 3G e do 4G no país, em 2016 cerca de 550 cidades ainda recebem apenas o sinal 2G –praticamente todas no interior do Brasil, segundo dados disponibilizados pela Anatel.


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