Folha de S. Paulo


Crítica

Sócio da Empiricus prevê 'fim do mundo' em novo livro

Karime Xavier/Folhapress
Felipe Miranda, sócio da Empiricus e autor de
Felipe Miranda, sócio da Empiricus e autor de "A Palavra do Estrategista"

Ao chamar seu mais recente livro de "A Palavra do Estrategista", Felipe Miranda, economista e sócio fundador da consultoria Empiricus, perdeu a oportunidade de dar um título mais polêmico. Tivesse batizado de "O Fim do Mundo", pegaria carona no sucesso de "O Fim do Brasil" –lançado em 2014, 30 mil exemplares vendidos– e daria tom mais condizente com o teor da coletânea de textos.

Na publicação, Miranda prevê que medidas adotadas pelo Fed (banco central dos Estados Unidos), e depois pelo BCE (Banco Central Europeu), para combater a crise de 2008 serão o ponto de partida para nova tormenta no mercado financeiro.

Isso porque os bancos centrais injetaram quantidades enormes de dinheiro na economia com o objetivo de estimular a demanda e a retomada do crescimento. Os recursos teriam se convertido em excesso de endividamento -a juro zero- e inchaço dos mercados financeiros, com pouco efeito sobre a economia real.

Para Miranda, isso levou os preços de ações para muito acima dos valores condizentes com os fundamentos.

Desfazer essa política expansionista, ou seja, subir a taxa básica de juros, daria início a uma escassez de dinheiro e a um aumento do custo da dívida, algo com potencial de criar estragos que vão de estouro de uma bolha no mercado financeiro a calotes.

Ele cita economistas que concordam com suas teses. Usa também seus pares para defender que, agora, governos endividados não teriam condições de implementar políticas para sair de uma nova recessão, inevitável a essa altura.

Mas Miranda escreve sobre o mundo do início de 2015, portanto antes da primeira alta de taxa de juros nos EUA –em dezembro, o Fed elevou o juro para o intervalo de 0,25% a 0,50%. O movimento foi interrompido, é verdade.

Os efeitos do "fim do mundo" sobre o Brasil também partem de premissas hoje inexistentes. Naquele cenário, o então ministro Joaquim Levy (Fazenda) ainda tentava emplacar um ajuste fiscal, as contas externas tinham um rombo efetivamente preocupante e o dólar só iniciava sua trajetória de valorização, que ultrapassou os R$ 4, mas voltou para os atuais R$ 3,50.

O impeachment da presidente Dilma Rousseff, que hoje parece perto de se concretizar, era apenas uma miragem.

A palavra do estrategista, é bom avisar, é o nome da coluna de Miranda como estrategista-chefe de investimentos da Empiricus.

Segundo a editora Escrituras, parte dos textos compilados no livro é inédita. Outra são colunas já publicadas.

Dado o turbilhão político-econômico vivido pelo país, pouco resistiu à chegada as livrarias.

NOVA MATRIZ

Um dos raros capítulos que não entram na discussão da crise mundial é sobre Nelson Barbosa, nomeado ministro da Fazenda em dezembro, após a saída de Levy. Nele, Miranda defende que Barbosa, como um dos pais da Nova Matriz Econômica (o grande "crime" econômico cometido pela presidente Dilma), não seria capaz de adotar medidas de ajuste fiscal.

Até janeiro, o texto poderia ser pertinente. Hoje, enquanto o mercado financeiro só quer saber quem seria o ministro em um eventual governo de Michel Temer, é discussão que beira a irrelevância.

A Palavra do Estrategista
Felipe Miranda
l
Comprar

O livro também falha em sua proposta de "como tirar proveito da crise e ganhar milhões". Em meio a explicações sobre a proximidade de uma nova crise, Miranda faz sugestões como investir em títulos do governo brasileiro, dólar e ouro. Consideradas as premissas desatualizadas, e a Bolsa em forte alta, é difícil saber se vale a pena seguir as orientações.

A PALAVRA DO ESTRATEGISTA
AUTOR Felipe Miranda
EDITORA Escrituras
QUANTO R$ 39,90
AVALIAÇÃO ruim


Endereço da página:

Links no texto: