Folha de S. Paulo


Investidores temem que os dias de glória do iPhone tenham acabado

Marcio Jose Sanchez - 21.mar.16/Associated Press
Greg Joswiak, vice president of iOS, iPad and iPhone product marketing, announces the new iPhone SE at Apple headquarters Monday, March 21, 2016, in Cupertino, Calif. (AP Photo/Marcio Jose Sanchez) ORG XMIT: FX114
Executivo da Apple anuncia o iPhone SE, aparelho mais barato e de tela menor

Os investidores na Apple estavam preparados neste ano para um trimestre de declínio acentuado que representaria a primeira queda de vendas para o iPhone.

Agora, porém, eles terão de se acostumar à ideia de que a desaceleração severa persistirá por pelo menos dois trimestres. E, quanto mais a Apple demorar a reviver as fortunas de seu produto dominante, maiores serão as preocupações de que os gloriosos dias de crescimento do iPhone ficaram para trás.

As profundezas a que o desempenho do segmento de smartphones, o principal negócio da Apple, caiu ficaram claras na terça-feira (26), quando a empresa apresentou resultados piores que os esperados para o primeiro trimestre do ano e divulgou uma projeção pessimista para o segundo trimestre.

Em lugar de uma recuperação firme a começar neste trimestre, o volume de vendas do iPhone agora pode estar a caminho de queda ainda mais séria do que a registrada no primeiro trimestre, quando ele caiu em 16% ante o do período em 2015.

Não importa que os executivos da Apple tenham insistido em que a projeção fraca resultava em parte de um ajuste de estoque de US$ 2 bilhões que mascarará a provável força da demanda. A projeção de receita de entre US$ 41 bilhões e US$ 43 bilhões no trimestre que se encerra em junho ficou muito abaixo das expectativas de Wall Street, que eram da ordem de US$ 47 bilhões, o que causou um calafrio no mercado.

Os números serviram para sublinhar o que já estava aparente: a Apple está vivendo à sombra de seu passado sucesso. A disparada nas vendas que se seguiu ao lançamento do Phone 6, que chegou ao mercado em setembro de 2014, causou aguda ressaca.

E, quanto mais a situação persistir, mais crescerá a pressão para que a Apple prove que ainda pode despertar empolgação com a sua envelhecida linha de smartphones, quando chegar a hora de introduzir o iPhone 7, mais tarde neste ano.

"Atingimos um platô de inovação", disse Geoff Blaber, analista da CCS Insight. "O iPhone não pode crescer indefinidamente". O maior desafio para a Apple, acrescenta, é realizar as expectativas superdimensionadas que seu sucesso passado continua a despertar.

De acordo com executivos da Apple, porém, não há nada de novo no atual ciclo de produto do iPhone, mesmo que o recuo tenha parecido mais forte.

Tim Cook, presidente-executivo da companhia, descartou sugestões de que a Apple estava mudando de uma companhia em crescimento para uma companhia madura. Ao ser questionado se acreditava que a desaceleração significava que era hora de repensar a posição da empresa no mundo da tecnologia, respondeu que "isso passará, como tudo mais".

Segundo ele, a pausa é bem parecida com a que aconteceu dois anos atrás. Naquele momento, depois de uma reformulação significativa do iPhone, a Apple no ano seguinte introduziu menos mudanças no aparelho. O índice de substituição de iPhones por modelos mais novos é melhor agora do que era então, e o quadro subjacente continua saudável, insistiu, em conversa telefônica com analistas depois do anúncio de resultados.

Mas havia sinais suficientes, no mais recente anúncio de resultados, para levar os investidores a pensar duas vezes.

Um foi a queda registrada pela Apple na região chinesa, até recentemente sua mais forte fonte de crescimento. Ainda que responda por apenas 25% das vendas totais da empresa, a região foi responsável por 60% no declínio da receita no período.

De acordo com Cook, porém, a China continental demonstrou mais robustez do que os números sugerem, com a demanda final caindo em 5%, considerado o ajuste de estoques. O maior declínio regional, acrescentou, foi causado pela queda de vendas em Hong Kong –resultado, segundo Cook, da queda acentuada nas compras por turistas.

Uma redução pesada nos preços dos iPhones em geral agravou a inquietação de Wall Street. Com os consumidores demonstrando preferência por modelos mais antigos e baratos, e não pelo mais recente carro chefe da linha da empresa, o preço médio de venda caiu em US$ 49 ante o trimestre anterior, para US$ 642.

Os preços devem sofrer pressão renovada no trimestre em curso, depois do lançamento do iPhone SE, um aparelho mais barato, com tela menor, de quatro polegadas, projetado para expandir o alcance da Apple a novas partes do mercado de smartphones.

IPAD

Se as vendas do iPhone vêm caindo este ano, houve pouco que pudesse compensar essa fraqueza. Os demais produtos de hardware da Apple também mostraram resultados fracos no mais recente período.

O iPad manteve seu declínio, com queda de 19% no volume de vendas ante o primeiro trimestre de 2015, e a receita do segmento "outros produtos" da empresa caiu à metade ante o trimestre anterior, o que indica queda acentuada nas vendas do Watch.

Em aparente confirmação, Cook disse que as vendas do Apple Watch estão mostrando ser sazonais, como no passado era o caso do iPod, que produzia 40% de sua receita no trimestre final do ano.

Até mesmo as vendas do Mac, que haviam se mantido firmes em meio à queda nas vendas mundiais de computadores, registraram declínio, com 12% de queda em termos de volume.

Em meio ao recuo mais amplo, coube ao segmento de serviços da Apple o único momento positivo. Três meses atrás, a maioria dos analistas dedicou pouca atenção ao esforço da Apple para acentuar o potencial de faturamento de sua divisão de serviços, optando por ver a manobra como sinal de que a companhia estava tentando desviar a atenção quanto ao declínio do iPhone.

Já que ele ainda responde por dois terços das vendas gerais da empresa e passou por oscilações tão violentas, porém, o destino do iPhone deve continuar a dominar as atenções de Wall Street pelos próximos anos.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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