Folha de S. Paulo


Cenário desfavorável ao governo faz Bolsa subir 4%; dólar avança com BC

O Ibovespa opera em alta de mais de 4% nesta terça-feira (12), para acima dos 52.000 pontos, com os investidores repercutindo o placar da votação do relatório favorável ao impeachment da presidente Dilma Rousseff na Comissão Especial da Câmara.

O dólar sobe depois que o Banco Central resolveu agir agressivamente para conter a queda da moeda americana. No entanto, após atingir a cotação máxima de R$ 3,5630, o dólar comercial reduziu a alta, passando para o patamar de R$ 3,50. O dólar à vista, que chegou a R$ 3,70 mais cedo, fechou no nível de R$ 3,53.

A autoridade monetária promoveu dois leilões contratos de swap cambial reverso (equivalente à compra futura da moeda pelo BC), oferecendo 80.000 contratos no total, quatro vezes mais do que vinha ofertando por dia. Na primeira operação, todos as 40.000 propostas foram aceitas, enquanto na segunda, de um total de 40.000, só foram aceitas 7.100.

O cenário externo positivo, com alta das commodities, mais uma vez, contribui para o bom humor local.

Os juros futuros e o CDS (credit default swap), espécie de seguro contra calote do país, recuam.

O mercado doméstico reage positivamente à aprovação, na Comissão Especial da Câmara, do relatório favorável ao impeachment da presidente Dilma Rousseff. O placar de 38 a 27 foi um pouco pior do que o governo esperava.

Além disso, segundo analistas, a prisão do ex-senador Gim Argello (PTB) na 28ª fase da Operação Lava Jato é vista como mais um ponto negativo para o governo. Isso porque Argello, que era o vice-presidente da CPI da Petrobras, era próximo da presidente Dilma.

"O cenário político interno se complicando para o governo vai deixando mais cristalino o cenário de impeachment e o mercado começa a especular, nos próximos dias, os nomes do futuro governo", observam os analistas da Lerosa Investimentos, em relatório.

"Claro que o jogo não está ganho, mas o placar começa a ficar mais favorável á oposição com a tendência de saída de partidos como PP, PR e PSD da base de sustentação do governo", acrescentam.

BOLSA

O principal índice da Bolsa paulista subia há pouco 4,18%, aos 52.263,66 pontos, impulsionado pelos papéis de bancos, Petrobras e Vale.

O índice ampliou a alta depois da notícia de que a bancada do PP na Câmara decidiu anunciar seu desembarque da base aliada do governo Dilma Rousseff e o apoio à abertura do processo de impeachment da presidente na votação prevista para o domingo (17).

No setor financeiro, Itaú Unibanco PN subia 3,79%; Bradesco PN, +3,53%; Santander unit, +3,66%; e BM&FBovespa ON, +1,84%; Banco do Brasil ON, +1,76%.

As ações preferenciais da Petrobras ganhavam 7,50%, a R$ 9,02, e as ordinárias avançavam 7,77%, a R$ 11,23, ajudadas pela alta dos preços do petróleo no mercado internacional.

Os papéis PNA da Vale avançavam 10,07%, a R$ 14,09, e os ON da mineradora subiam 11,49%, a R$ 18,92. O preço do minério de ferro em Qingdao, na China subiu 4,59%, a US$ 59,22 a tonelada. Foi a segunda sessão seguida de alta expressiva da matéria-prima.

Entre as siderúrgicas, CSN ON subia 14,71%; Gerdau PN, +4,88% e Usiminas PNA, +10,61%.

DÓLAR

O Banco Central agiu pesadamente para conter a queda do dólar nesta terça-feira. Na segunda-feira (11), a moeda americana já havia caído quase 3% ante o real e atingido a menor cotação em quase oito meses, com o noticiário desfavorável ao governo e o cenário externo positivo, apesar de autoridade monetária ter realizado três leilões de swap cambial reverso, totalizando 20.000 contratos.

Nesta terça-feira, o BC leiloou mais cedo 40.000 contratos de swap cambial reverso, o dobro do que vinha sendo ofertado nas sessões anteriores. Todas as propostas foram aceitas. A estratégia mais agressiva do BC fez o dólar à vista subir quase 5% ante o real, atingindo a máxima de R$ 3,7014.

A moeda americana, no entanto, começou a perder fôlego ante o real. O BC realizou, então, um segundo leilão de 40.000 contratos de swap cambial reverso. Destes, foram aceitas 7.100 propostas.

Além disso, o BC não anunciou rolagem de swap cambial tradicional para esta sessão. A autoridade monetária vinha rolando diariamente neste mês 5.500 contratos com vencimento em maio. Isso significaria uma rolagem de 50% desses contratos, se o montante fosse mantido até o final de abril. O swap cambial tradicional equivale à venda futura de dólar pela autoridade monetária.

O dólar à vista fechou em alta de 0,36%, a R$ 3,5389. O dólar comercial, que atingiu a máxima de R$ 3,5630 na sessão, avançava 0,34%, a R$ 3,5070.

Segundo analistas, se não fosse a ação mais agressiva do BC nesta terça-feira, a moeda americana já poderia estar na casa dos R$ 3,40, em função do aumento das apostas do mercado em relação ao impeachment.

Cleber Alessie, operador de câmbio da corretora H.Commcor, vê a ação da autoridade monetária como positiva. "O BC aproveita esse momento de baixa do dólar para reduzir sua posição vendida em swap cambial, o que ajuda no resultado primário do governo, ao mesmo tempo em que controla o excesso de volatilidade no câmbio", explica.

No mercado de juros futuros, o contrato de DI para janeiro de 2017 caía de 13,760% na véspera para 13,740%; o contrato de DI para janeiro de 2021 recuava de 13,570% para 13,470%.

O CDS, indicador da percepção de risco do país, caía 4,42%, para 361,145 pontos.

EXTERIOR

Na Bolsa de Nova York, o índice Dow Jones subia 0,94%; o S&P 500, +0,93% e o Nasdaq, +0,66%, impulsionados pela alta do petróleo.

Em Londres, o petróleo Brent subia 4,30%, a US$ 44,67 o barril, e, em Nova York, o WTI ganhava 4,24%, a US$ 42,07, com notícias de que a Rússia e a Arábia Saudita teriam alcançado um acordo para congelar a produção de petróleo. Os principais produtores se reúnem no próximo domingo (17) para discutir o tema.

As Bolsas europeias fecharam no terreno positivo, com exceção de Milão, que caiu 1,57%. Londres (+0,68%); Paris (+0,77%); Frankfurt (+0,81%); Madri (+0,54%).

Os principais índices acionários chineses caíram nesta terça-feira, pressionados pelas ações imobiliárias e de tecnologia, com investidores realizando os lucros da alta de mais de 1% da sessão anterior. Enquanto isso, as ações do restante da região asiática subiram, lideradas pela recuperação das ações japonesas.


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