Folha de S. Paulo


Brasil terá uma década perdida de renda, dizem bancos e consultorias

A renda per capita brasileira vai demorar cerca de dez anos para recuperar a perda causada pela recessão atual.

O cenário desanimador do poder de compra do brasileiro vai perdurar até os anos 2020, segundo estimativas de bancos e consultorias como BofA/Merrill Lynch, Bradesco, Economist Intelligence Unit (EIU) e MB Associados.

A renda per capita começou a encolher em 2014 e deverá encerrar este ano com uma contração acumulada superior a 9%, para cerca de R$ 27 mil anuais (a preços de 2013), cerca de US$ 6.900, segundo a MB Associados.

Esse indicador –que mede a soma dos bens e serviços produzidos num país ao longo de um ano dividida pelo número de habitantes– já havia sofrido quedas bruscas ao longo da história, como no início dos anos 1980 e 1990.

Mas a recuperação foi mais rápida do que o esperado para o atual ciclo recessivo, que deverá custar uma década perdida de desenvolvimento.

A trajetória de recuperação da renda seria ainda mais longa se a taxa de crescimento da população não estivesse em desaceleração.

BRASIL MAIS POBRE NA PRÓXIMA DÉCADA

CAUSAS

Para David Beker, analista do BofA/Merrill Lynch, nem em 2025 o PIB (Produto Interno Bruto) per capita medido em dólares voltará ao patamar de antes da crise.

Segundo ele, além do mergulho profundo provocado pela atual recessão, o Brasil sairá da crise com taxas de crescimento mais modestas do que as do passado recente. A expansão anual entre 2016 e 2025 deverá cair, em sua estimativa, pela metade em relação ao registrado na década anterior.

Os fatores que levam a tal moderação, segundo diz, são uma dinâmica menos exuberante do consumo e do crédito. "Como o consumo responde por 60% do PIB, se ele cresce menos, o país cresce menos", disse.

O crédito, que evoluiu de um patamar de 15% do PIB para os atuais 53%, também crescerá em menor velocidade nos próximos anos.

"O Brasil terá de se reinventar, com uma dinâmica de crescimento diferente, mais baseada nos investimentos e nas exportações", disse.

O problema é que o país não tem mais a ajuda que vinha do exterior. Octavio de Barros, diretor de pesquisas econômicas do Bradesco, observa que a taxa de expansão da economia global caiu.

"O Brasil não vai se recuperar tão facilmente porque não tem o vento a favor das commodities", afirma Robert Wood, analista da EIU.

Os preços das commodities –que têm grande peso nas exportações brasileiras– tiveram forte alta na década passada por causa da demanda da China, que, agora, passa por uma desaceleração.

Essa história, porém, pode mudar e o rumo pouco animador pode ser alterado, fazendo com que o país volte a crescer mais fortemente.

Para isso, segundo os economistas, é preciso avançar em mudanças que alterem a estrutura produtiva do país –em outras palavras, ser capaz de produzir mais com os recursos disponíveis. No vocabulário econômico, isso significa ganhar produtividade.

"O lado positivo da crise atual é que o debate sobre a necessidade de fazer reformas tem aumentado. A sociedade começa a perceber isso", afirma Caio Megale, economista do Itaú Unibanco.

Para Barros, do Bradesco, a agenda de eficiência deveria incluir medidas para melhorar a gestão do Orçamento, com uma reforma da Previdência e a criação de um limite para os gastos públicos.

Mas, se as reformas poderiam mudar para melhor o futuro, há também o risco de um cenário ainda pior.

Isso vai depender da duração da atual crise política.

A saída da presidente Dilma Rousseff poderia acelerar a retomada, acredita Sergio Vale, da MB Associados.

Para Barros, a "pacificação política", quem quer que seja o governante, é necessária para a recuperação.


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