Folha de S. Paulo


Incertezas prosseguem com ou sem Dilma, dizem consultores

As incertezas sobre a política e a economia não se encerram com uma decisão sobre o eventual impeachment da presidente Dilma Rousseff, afirmam consultores políticos e economistas.

Tanto se Dilma sair quanto se a presidente permanecer no cargo, há dúvidas sobre a resolução do impasse político, cujo efeito sobre a economia é a grave recessão.

Desde a semana passada, quando o governo passou a negociar cargos com os partidos menores da base aliada (PP, PTN, PR e PSD), analistas passaram a considerar mais difícil o impeachment.

O consultor político Christopher Garman, da Eurasia, contratada por bancos e gestoras, afirma que se o impeachment não prosperar, a pressão política pelo afastamento da presidente subirá.

Na sua avaliação, há 60% de chance de Dilma sofrer um impeachment e 75% de ela não terminar o mandato.

"Nossa convicção de [Dilma] não terminar [o mandato] é alta, mas o caminho da queda é difícil de antecipar. Se o governo vencer a batalha do impeachment, aumentaríamos a probabilidade de novas eleições", disse Garman, em evento organizado pelo Itaú Unibanco com cerca de 1.000 empresários, investidores e analistas.

"A crise econômica vai se aprofundar e a insatisfação social vai aumentar. É um ambiente difícil para um governo manobrar, por isso diminuímos a probabilidade de impeachment, mas não a probabilidade da presidente não terminar o mandato", disse.

O professor da FGV Oscar Vilhena, também no evento, observou que Dilma enfrenta não apenas um processo de impeachment, mas uma "onda", que prevê um eventual novo pedido de julgamento político e a análise da validade da chapa Dilma-Temer pela Justiça Eleitoral.

"Deveríamos olhar a presidente Dilma não submetida a um processo de impeachment, mas a um conjunto de ondas que se sobrepõem a esse primeiro processo", disse.

Para Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central, a composição de um eventual governo Michel Temer será complexa, algo que o mercado pode estar subestimando.

"Os partidos, como o PSDB, terão pedidos a fazer e a negociação política não será simples", disse.

Em caso de o impeachment não ocorrer, Franco crê que o mercado financeiro deve reagir mal. E a crise não acaba.

"Se não acontecer, não se encerra o assunto. Claro que será uma decepção, o mercado não vai gostar. Porém o jogo continua", disse.

Para Garman, Temer poderia montar uma boa equipe e animar o mercado, mas a Lava Jato continuará pairando sobre seus aliados, e o PT se queixará de que as regras do jogo não foram respeitadas.


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