Folha de S. Paulo


Brasil e EUA atuarão juntos para conter excesso chinês na siderurgia

Antônio Gaudério/Folhapress
ORG XMIT: 201401_1.tif Aciaria da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional), onde é feita a transformação de ferro líquido em aço líquido, em Volta Redonda (RJ); a empresa tem projeto de novas usinas de placa voltadas para o mercado externo. Impulsionada pelo aquecimento da economia mundial, principalmente pela crescente demanda na China, a indústria de base brasileira vive um novo ciclo de investimentos, resultado da combinação dos altos preços dos produtos no mercado internacional e de uma maior capacidade de obter capital nos últimos anos. Somente no primeiro semestre, o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) aprovou financiamento para 15 novos projetos de investimentos, que somam R$ 9,9 bilhões, nos setores de química, siderurgia, mineração e papel e celulose. (Volta Redonda, RJ, 08.09.2006. Foto de Antônio Gaudério/Folhapress)
Indústria da CSN onde é feita a transformação de ferro líquido em aço líquido, em Volta Redonda (RJ)

Brasil e Estados Unidos atuarão em conjunto para tentar mitigar a grave crise no setor siderúrgico mundial, causada principalmente pelo excesso de oferta da indústria chinesa. A coordenação foi proposta pelo governo americano, segundo o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Armando Monteiro, que está em Wasington para uma série de encontros com o governo e empresários.

Segundo ele, há uma "imensa preocupação" nos dois países com a crise, que envolve excesso de oferta, forte queda na demanda mundial e, como consequência, um "surto de medidas protecionistas em todos os mercados para proteger os mercados domésticos".

Em Washington, Monteiro ouviu do representante americano de Comércio, Michael Froman, que os EUA consideram necessária uma "coordenação internacional" para evitar o agravamento da situação. De acordo com o ministro, o setor siderúrgico perdeu entre 20 e 25 mil empregos somente nos últimos 15 meses.

"É uma questão extremamente complexa. Metade da produção siderúrgica mundial hoje vem da China. No início dos anos 1980, a China produzia a mesma quantidade de aço bruto do Brasil. Hoje a produção anual da China em 15 dias é equivalente à produção anual do Brasil". disse. "Não temos a pretensão de impor nada à China, seria irrealista. Mas deve-se abrir um diálogo para um processo de coordenação evitar o agravamento desse quadro, que é muito grave.

O ministro afirmou que a China está em fase de implementação de ajustes no setor, mas que a velocidade desse processo tem sido insuficiente para conter o desequilíbrio na oferta. "Existem plantas [na China] que são antigas e pertencem aos governos provinciais e operam em condições muito precárias, mas são geradoras de empregos", explicou Monteiro.

De acordo com o ministro, a ideia é que Brasil e EUA atuem de forma conjunta em foros de discussão sobre a crise siderúrgica, como na comissão que se reunirá em abril no âmbito da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Enquanto não surge uma ação coordenada com efeitos sobre o excesso de oferta, há "um verdadeiro surto" de medidas de defesa comercial, disse Monteiro, incluindo salvaguardas e elevação de tarifas de importação. O Brasil já tem medidas antidumping em curso contra o aço chinês, além de duas investigações abertas.

Ao comentar a crise econômica e política brasileira, Monteiro criticou indiretamente a Fiesp, que defende o impeachment da presidente Dilma Rousseff. "Há outras entidades que assumem uma opção mais equilibrada, que querem que as condições de governabilidade sejam restauradas, pois a economia precisa de governo e o pior cenário é um quadro de dificuldade aguda de governabilidade. Mas há outras que foram além disso e defenderam o impeachment", disse.

Em meio aos dados negativos da economia brasileira, o ministro citou uma boa notícia, o aumento do número de empresas brasileiras que estão exportando aos EUA. De 2014 a 2015 houve um crescimento de 9%, chegando a 6.471. O aumento é resultado não apenas do câmbio favorável, com a desvalorização do real. mas também de acordos que facilitam a exportação, segundo o ministério.


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